Brasileiro Leo Kryss, da TecToy, vendeu sua mansão, sem saber, a Jeff Bezos. E agora processa o corretor
Se você chegou à vida adulta nos anos 2000, talvez não tenha ouvido falar de Leo Kryss. Mas esse alemão que se mudou para o Brasil nos anos 1950 e naturalizou-se, já foi um dos maiores investidores da bolsa brasileira nos anos 80, ao lado de Naji Nahas. Ele também controla a Evadin, que trouxe as tevês Mitsubishi ao país e é um dos fundadores da fabricante de brinquedos eletrônicos Tec Toy, que produziu no Brasil os videogames Sega – os mais velhos entenderão.
Kryss vive hoje nos Estados Unidos, onde também fizeram faculdade as trigêmeas de seu segundo casamento. Lá, em 2014, ele comprou uma mansão de 1.765 metros quadrados em Miami, na ilha de Indian Creek Village em nome da T.A.M Investments. No fim do ano passado, a propriedade foi vendida por US$ 79 milhões para ninguém menos do que o fundador da Amazon, Jeff Bezos, que já tinha uma propriedade vizinha e que neste ano arrematou uma terceira casa na ilha.
Agora, segundo o The Wall Street Journal, Kryss está processando a corretora imobiliária Douglas Elliman, que vendeu a mansão para Bezos.
A propriedade – que tem sete quartos, adega, cinema, piscina e biblioteca – estava sendo oferecida no mercado por US$ 85 milhões. Quando recebeu a proposta de US$ 79 milhões, Kryss chegou a perguntar para Jay Parker, CEO da Elliman para a região da Flórida, se Bezos, seu vizinho, estaria por trás da oferta. Parker respondeu pessoalmente a Kryss que Bezos não era o comprador e que a proposta final era mesmo de US$ 79 milhões.
Kryss agora alega que a Elliman o enganou sobre a identidade real do comprador (uma empresa ligada a Bezos) e que isso lhe causou um prejuízo de US$ 6 milhões – o desconto em relação ao preço pedido. O processo corre em um tribunal de primeira instância no Condado de Miami-Dade.
Segundo o WSJ, Kryss afirma no processo que “era extremamente importante para suas negociações e sua decisão sobre o preço final de venda (…) saber se Bezos estava (…) tentando adquirir a casa de forma anônima para juntá-la com a propriedade adjacente”.
Na negociação, a corretora imobiliária Elliman recebeu uma comissão de 4% – US$ 3,2 milhões. Depois o fechamento do negócio, Parker teria enviado um e-mail a Kryss informando que não conhecia a identidade do comprador. E que tinha sido levado a acreditar que a propriedade estava sendo adquirida pela família de Benny Klepach, que administra lojas duty-free nos Estados Unidos.
Kryss, que ainda hoje tem a Evadin, além da Tendência Asset Management, nunca fugiu de uma briga na Justiça. No fim da década de 90, a japonesa Mitsubishi encerrou o contrato que permitia à Evadin fabricar os televisores da marca na sua fábrica da Zona Franca de Manaus. Kryss recorreu à Justiça e a disputa seguiu até 2012, quando o Judiciário deu ganho de causa aos japoneses.
No início dos anos 2000, ele também teve uma longa disputa com o então amigo Jorge Simeira Jacob, da rede de varejo Arapuã – uma das maiores distribuidoras dos televisores fabricados pela Evadin e que entrou em crise na época. A Evadin pediu a falência da Arapuã – rede que acabaria fechando as portas tempos depois.