Blockchain pode favorecer moeda digital entre Brasil e Argentina, mas diferença entre as economias é um desafio, diz especialista
Proposta foi confirmada pelos presidentes Lula e Alberto Fernández, mas o modelo do projeto ainda não foi definido.
O intercâmbio entre moedas fiduciárias distintas é uma operação cara e que costuma ser lenta quando envolve transações volumosas. Que o diga o Society for Worlwide Interbank Financial Telecommunication (SWIFT), Sociedade para Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais, um sistema belga cuja principal função é a troca de informações bancária e transferências financeiras transfronteiriças.
Não por acaso, a tecnologia blockchain, que apoia as criptomoedas, abriu espaço para diversas alternativas envolvendo nos últimos anos, como o sistema On-Demand Liquidity (ODL), desenvolvido pela startup estadunidense Ripple, voltado a pagamentos business-to-business (B2B), adotado em agosto do ano passado pela operação brasileira do banco britânico Travelex Bank.
No último fim de semana os presidentes do Brasil e da Argentina, Luiz Inácio Lula da Silva e Alberto Fernández, confirmaram a intenção de lançarem o “Sur”, uma moeda digital entre os dois países para baratear os custos de importação e exportação. Desafio que pode ser muito maior do que a disrupção e barateamento das transações oferecidos pela blockchain, em razão das disparidades entre as economias dos dois países, dependendo do formato da moeda digital adotada.
Foi o que observou João Zecchin, cofundador da gestora Fuse Capital, em entrevista à Exame. Segundo ele, a eventual adoção de uma moeda digital única entre os países, com políticas monetárias e economias distintas, seria uma experiência “um pouco exótica” e poderia causar problemas ainda maiores para Brasil e Argentina. Entre eles, a falta de ferramentas de controle da inflação, a exemplo do que ocorre na zona do euro, onde mais de 20 países compartilha a mesma moeda.
Zecchin acrescentou que a alternativa mais viáveL seria a emissão de uma moeda digital emitida pelo banco central (CBDC) pelos dois países, o que aconteceria de maneira provisória até o desenvolvimento de uma “moeda sintética” que, nesse caso, não ligaria as duas economias e respeitaria as diferenças econômicas expressivas entre o Brasil e a Argentina. Nesse caso, a terceira moeda, o Sur, teria uma taxa independente de câmbio e serviria como moeda de troca sintética entre oferta e demanda entre as duas nações. O Sur, sugeriu o executivo, seria uma moeda digital distinta do Real Digital e de um futuro Peso Digital e, na prática, seria uma alternativa ao SWIFT.
Quem também está entusiasmada com o avanço de sua plataforma descentralizada de pagamentos é a rede Stellar, que registrou crescimento de 176% e alcançou 345 milhões de transações em 2022, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil.
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