Libertários da blockchain: um mundo descentralizado é possível?
Mais do que eliminar a intermediação em transações financeiras, tecnologia abriu oportunidades, liberdade que enfrenta ‘freios governamentais’ ao redor do mundo.
Quem tem quarenta anos ou mais possivelmente terá a oportunidade de ter vivido em três mundos distintos, pelo menos. O primeiro deles pode ser considerado uma gaiola se comparado ao segundo, dos tempos atuais, da “internet na palma da mão” que, por sua vez, é uma espécie de “reality show” digital em que as câmeras são, principalmente, as grandes empresas de tecnologia, que têm a “vida das pessoas” em seus servidores.
Muito mais do que mera percepção dos quarentões em diante, as transformações tecnológicas encontram lastros de peso em estudiosos que abordam a questão e, sobretudo, o futuro delas. Um exemplo é a especialista em tendências Amy Webb, classificada pela Forbes como uma das cinco mulheres que estão transformando o mundo.
A futurista esteve no Brasil no final de agosto, quando participou de um evento de tecnologia no interior de São Paulo, ocasião em que rechaçou o poder das big techs sobre a internet atual, a Web2. Em entrevista para a Tilt, ela disse que as big techs terão que abrir mão do controle na Web3, caracterizada pela descentralização.
Ao ilustrar a descentralização no mundo contemporâneo, as criptomoedas foram lembradas, na medida em que as transações entre as pessoas não necessitam da intermediação de instituições bancárias, conforme lembrou a publicação.
O posicionamento de Ammy Webb se localiza no “terceiro mundo”, que neste caso não se trata dos países emergentes e sim do que se apresenta com ares de libertação, pelo que observa Webb ao falar sobre a próxima geração da internet, a Web3.
Porém, não por acaso as criptomoedas foram lembradas pela especialista, porque, em um contexto histórico, as amarras tecnológicas começaram a se desfazer com o desenvolvimento do algoritmo de uma criptomoeda, o Bitcoin (BTC), filho primogênito da tecnologia disruptiva que ganharia o mundo em um contexto evolutivo: a blockchain, base da descentralização.
Poucos sinais ainda restam dos tempos em que, entre outros exemplos, as pessoas vagavam atrás de papéis carimbados e assinaturas para abrirem uma conta bancária, sem contar as filas intermináveis, taxas e a demora para envio de valores e até mesmo um simples saque, dependendo da quantia, de um dinheiro que era delas, mas que parecia não ser.
A burocracia que, de quebra, ainda carregava o fardo dos riscos de fraude, está no centro das mazelas que fortaleceram a necessidade do uso da blockchain no contexto da evolução financeira, conforme abordado em um artigo científico da Revista Núcleo do Conhecimento.
Embora as finanças digitais estejam no foco dos holofotes em relação aos casos de uso da blockchain, ela é a amálgama para diversos outros casos de uso, que vão além da Web3, a internet descentralizada. Um exemplo é o metaverso, um espaço virtual em que as pessoas podem construir e manter patrimônios digitais, de maneira descentralizada.
Por outro lado, o futuro da descentralização ainda é incerto, apesar da enxurrada de projetos que movimentam bilhões e mobilizam uma legião mundial de “libertários da blockchain.” Isso porque, o desenvolvimento da tecnologia e a adoção em massa vai muito além da vontade da sociedade, na medida em que outros atores de peso podem estar no outro campo do avanço da tecnologia disruptiva: os governos.
Não por acaso os movimentos regulatórios e, inclusive, proibitivos crescem ao redor do mundo, no caso específico das criptomoedas, sob a retórica do combate aos esquemas de pirâmide financeira, lavagem de dinheiro e proteção aos cidadãos.
Mas os desafios da blockchain e, consequentemente da descentralização, vão além das finanças, tanto que, em agosto deste ano, o Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC), órgão do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, determinou a proibição do serviço de mixagem Tornado Cash e provocou forte reação do universo cripto.
Além da proibição, a tecnologia que revolucionou o mercado também é objeto de debates em relação ao possível uso da tecnologia como ferramenta de controle social, motivo de questionamentos feitos no final de setembro a representantes do Banco Central do Brasil, que disseram que o Real Digital terá funcionalidades que o Pix não oferece e garantiram que a CBDC não será usada para ‘vigiar os brasileiros’, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil.
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