O Bitcoin está se tornando muito centralizado, diz o CTO da Komodo
O ethos do Bitcoin como uma criptomoeda descentralizada está ameaçado, de acordo com Kadan Stadelmann, CTO da Komodo, que expressou preocupações à BeInCrypto sobre a crescente centralização na rede.
Essa mudança de seus princípios fundamentais pode redefinir o papel do Bitcoin no cenário financeiro.
Uma grande potência de mineração
Desde sua criação por Satoshi Nakamoto em 2009, o Bitcoin tem sido celebrado como uma força pioneira de autonomia e liberdade financeira, livre do controle de instituições financeiras centralizadas. Entretanto, desenvolvimentos recentes sugerem um desvio desse ideal, direcionando o Bitcoin para o que Stadelmann chama de “paradoxo centralizado”.
Um dos indicadores mais significativos dessa tendência é a concentração do poder de mineração em um punhado de pools de mineração. A Foundry USA e a Antpool, por exemplo, agora controlam mais de 50% do hashrate total do Bitcoin. Essa concentração é ainda mais acentuada quando se considera que mais de 80% do poder de mineração é detido por apenas cinco pools.
Esse domínio de poucos prejudica a natureza descentralizada que o Bitcoin deveria exemplificar.
A influência do governo e dos órgãos reguladores também complica o quadro. Por exemplo, o pool Blockseer da América do Norte não apenas atende, mas também excede os padrões de conformidade do Office of Foreign Assets Control (OFAC) do governo dos EUA.
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Essa conformidade introduz um nível de supervisão e controle governamental que não existia anteriormente, diluindo a promessa descentralizada do Bitcoin.
“Em resumo, uma minoria de mineradores controla recursos substanciais, minando o ethos descentralizado que o Bitcoin afirma defender. Esse cenário questiona a natureza igualitária que o Bitcoin supostamente representa e abre discussões sobre os verdadeiros beneficiários dessa moeda digital”, disse Stadelmann ao BeInCrypto.
Instituições americanas assumem o controle
Stadelmann também acredita que o crescente envolvimento de grandes instituições financeiras nas operações de mineração de Bitcoin sinaliza outra mudança em direção à centralização.
A BlackRock adquiriu ações significativas em duas empresas líderes de mineração de Bitcoin, 6,71% na Marathon Digital Holdings e 6,61% na Riot Blockchain, com investimentos próximos a US$ 383 milhões. Desde 2014, o Fidelity Group tem minerado Bitcoin ativamente. Por outro lado, a Vanguard detém cerca de 17,9 milhões de ações da Riot Platforms e 17,5 milhões de ações da Marathon Digital.
Não se trata apenas de investimento financeiro. Em janeiro, a BlackRock integrou ainda mais o Bitcoin ao mercado financeiro convencional ao registrar documentos na SEC para incluir um fundo negociado em bolsa (ETF) de Bitcoin à vista. Esse novo instrumento financeiro agora administra 272.800 BTC, avaliados em US$ 17,20 bilhões.
Esse número nem sequer inclui as participações de produtos semelhantes gerenciados por outras entidades.
“A crescente influência desses gigantes financeiros nas operações de mineração de Bitcoin pode levar a um cenário em que a tomada de decisões e o controle sobre a rede se concentrem nas mãos de poucos, em vez de serem distribuídos entre um grupo diversificado de participantes”, acrescentou Stadelmann.
O cerne do problema está no forte contraste entre a trajetória atual do Bitcoin e seu objetivo original. A visão original do Bitcoin era operar como uma rede descentralizada, independente dos sistemas financeiros tradicionais. Entretanto, o aumento da centralização pode aproximá-lo dos próprios sistemas que ele pretendia contornar.
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Essa centralização não é apenas um problema técnico, mas uma questão fundamental sobre a natureza e o futuro do Bitcoin. Ela desafia o ethos descentralizado que tem sido um atrativo significativo para investidores e usuários atraídos pela ideia de um sistema financeiro livre de restrições tradicionais.
Portanto, o apelo de Stadelmann para uma discussão robusta na comunidade Bitcoin é oportuno e essencial.
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