‘Sheik dos Bitcoins’ nega que vá fugir do país e promete pagar todos os clientes lesados

Francis Silva afirmou que interrompeu a captação de novos clientes até que tenha honrado todas as dívidas pendentes.

Investigado pela Polícia Federal do Paraná por suspeita de crimes contra o sistema financeiro internacional e organização criminosa, Francis Silva afirmou que está trabalhando sete dias por semana para honrar as dívidas pendentes com os clientes da Rental Coins, incluindo o casal Sasha Meneghel e João Figueiredo, e que não pretende fugir do país, muito embora seu passaporte não tenha sido apreendido pela Justiça. As declarações foram dadas em uma entrevista ao jornal Extra publicada nesta segunda-feira, 11.

Francis da Silva é um dos sócios majoritários da Rental Coins, uma empresa que se apresenta como exchange de criptomoedas, que vem sendo acusada por clientes de não ter honrado compromissos assumidos em uma modalidade de investimento baseada na locação de criptoativos, com pagamento de rendimentos mensais fixos de até 10% ao mês.

Um cliente da empresa disse em condição de anonimato ao Cointelegraph Brasil que os primeiros atrasos nos repasses devidos aos investidores começaram a ocorrer em novembro de 2021 e até agora apenas alguns investidores tiveram os devidos repasses efetivados.

O caso ganhou dimensão nacional depois que a modelo Sasha Meneghel e o marido, o cantor João Figueiredo, entraram com um processo judicial na 14ª Vara Cível de Curitiba (TJ-PR) contra a Rental Coins, sob alegação de que teriam sido vítimas de um esquema de pirâmide financeira. Mais uma vez, Francis negou irregularidades na atuação da empresa:

“Pensam que é pirâmide, que é golpe. As pessoas, desesperadas, acham que perderam o dinheiro. Mas Francis está no Brasil e trabalha intensamente, até sábados e domingos, para normalizar (os pagamentos). Declaro tudo que tenho. Não sonego imposto. Disseram que até tomaram o meu passaporte, mas ele continua comigo.”

Erros de gestão

Ao afirmar que seus negócios não se baseiam em um esquema de pirâmide financeira, Francis afirmou que a captação de novos clientes foi interrompida até que todas as dívidas com os antigos clientes sejam saldadas.

O empresário atribuiu as dívidas acumuladas a “erros de gestão” e também afirmou que não tinha conhecimento dos juros fixos mensais que seus gerentes estavam oferecendo nos contratos de locação de criptoativos fechados com os clientes.

De acordo com um contrato de locação da empresa a que o Cointelegraph Brasil teve acesso, o modelo de locação de criptoativos da empresa oferecia rendimentos mensais fixos de 6% contra o aluguel temporário do BRCP, um ativo digital baseado na blockchain da Tron e emitido pela própria empresa, cujo valor é atrelado ao Real e lastreado pelo capital social da Compralo, empresa especializada em meios de pagamento com criptoativos avaliada em R$ 50 milhões.

Tanto a Compralo quanto a Rental Coins pertenceriam à Intergalaxy Holding e ambas têm Francisley da Silva Valdevino, mais conhecido como Francis Silva, como sócio-administrador.

A título de investimento, a aquisição do BRCP poderia ser tanto feita diretamente no site da RentalCoins ou então pelo site da Compralo. Daí por diante, o contrato firmado entre as partes prevê que a empresa atue como locatária tornando-se responsável pela custódia e administração do BRCP em quantia estabelecida no referido documento por um período de 12 meses. 

Como contrapartida, os rendimentos fixos deveriam ser pagos em BRCP mensalmente ao cliente e locador diretamente em uma carteira de sua preferência. A conversão do criptoativo em reais e posterior transferência à conta bancária de titularidade do cliente deveria ser feita através da Compralo. Ao término do contrato, em caso de não renovação do mesmo, o cliente teria direito a receber integralmente o valor investido.

Em março deste ano, Francis afirmou que 60% dos clientes aceitaram assinar um novo contrato com bases diferentes, enquanto 20% preferiram encerrá-los e retirar todo os seus fundos da empresa. O restante estaria em negociação.

Na entrevista ao Extra, o empresário disse que o plano de reestruturação da empresa passa pelo oferecimento de serviços baseados em tecnologia blockchain para instituições financeiras: 

“A ideia não é voltar a fazer captação, é deixar a empresa em ordem. Não dependo de novos aportes. Tenho uma base onde trabalho com outras frentes. Me considero o maior desenvolvedor de blockchain do país. Isso vai me recuperar. Meus clientes passam de 30 mil, dos quais de 60% a 70% já receberam de volta. De 20% a 30% é o problema real. Entre fevereiro e março de 2023, a empresa estará 100% redonda.”

Sasha e João

Francis revelou também que tentou fechar um acordo amigável para evitar que a dívida de R$ 1,2 milhão com o casal fosse parar na Justiça. Para surpresa do empresário, apesar da relação pessoal com Sasha e João, a questão vai ser decidida nos tribunais:

“Sasha e João são pessoas maravilhosas. Tentamos três vezes fazer acordo. Fiquei chateado, estranhei a postura. Tivemos amizade pessoal, mas não quero entrar nos detalhes”.

O casal busca reparação por danos materiais e morais por supostamente terem sido vítimas de um esquema fraudulento baseado em um produto de investimento caracterizado na petição apresentada pelo advogado de Sasha e João como uma “sofisticada cadeia de subterfúgios para constituir pirâmide financeira e aplicar golpe nos autores.”

Sasha e o marido também acusam Davi Zocal dos Santos, agente de investimentos da Rental Coins, de “abuso da confiança e da fé religiosa”. O agente e o casal se conheceram dentro da igreja cristã evangélica frequentada pelo casal.

Depois de estabelecer uma relação de proximidade com Sasha e João, Zocal os teria apresentado ao dono da Rental Coins e os convidado para aderir ao plano de investimento baseado na locação de criptoativos da Rental Coins.

Silas Malafaia

Durante a entrevista, Francis também explicou a sociedade com o pastor Silas Malafaia. Segundo o empresário, os dois eram sócios em um empreendimento que não envolvia o aluguel de criptoativos:

“Não ofereci aluguel de cripto. Eu desenvolvi para ele um sistema. Não tem mais nada. Eu saí da sociedade. Muitas pessoas batiam no pastor. Então, resolvi sair para não prejudicar a imagem de ambos.”

Malafaia e Francis teriam sido sócios na AlvoX Negócios, uma empresa de marketing de relacionamento multinível direcionada ao público evangélico. A sociedade tinha como objetivo a captação de recursos para pagar os credores da Central Gospel, empresa criada por Malafaia para arrecadar fundos para a igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo.

A parceria com o “Sheik dos Bitcoins”, firmada no ano passado, teria sido uma tentativa para salvar a Central Gospel. O empreendimento estava em crise desde 2019, quando Malafaia e a esposa, a pastora Elisete, ingressaram com um pedido de recuperação judicial no valor de R$ 16 milhões.

Quando o processo do casal Sasha e João veio à tona, Malafaia manifestou-se a respeito da sociedade oferecendo uma versão diferente da apresentada agora por Francis. Segundo o pastor, ele teria desfeito a parceria assim que surgiram os primeiros rumores de que as empresas de Francis estariam devendo aos clientes. Malafaia acrescentou ainda que nunca indicou investimentos em criptoativos aos seus fiéis por não “misturar a igreja com negócios”.

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