Bitcoin patrocina produção de vacina contra o COVID-19

A comunidade bitcoin, de forma anônima está tomando as rédeas na busca por uma vacina contra o coronavírus, ignorando acadêmicos, empresas farmacêuticas e o próprio governo. Neste caso o FDA (Food and Drug Administration), o ministério da saúde americano.

A iniciativa “biohacking” do grupo conhecido como CoroHope está coletando doações em bitcoins para financiar o trabalho. O grupo declarou ter um biólogo com 10 anos de experiência fazendo parte da equipe, inclusive com experiência na produção de vacinas que obedecem os requisitos do FDA.

Membros de destaque na comunidade cripto, como o co-fundador da Blockstream, Mark Friedenbach, estão dando aval para a equipe desconhecida. “Não é uma farsa”, twittou Mark Friedenbach.

“Criptomoedas são capazes de ajudar com esse problema de maneira única, porque como nós, elas estão fora do sistema tradicional. Os patrocinadores originais são “bitcoiners” e gostaríamos de continuar trabalhando com programadores especialistas na rede bitcoin para resolver esse problema. Precisamos de toda a ajuda que pode ser obtida”, declarou um porta-voz do CoroHope.

O grupo vê o FDA como um obstáculo potencial para encontrar uma vacina para o coronavírus. A burocracia cria atrasos porque agências governamentais têm um processo de aprovação rigoroso mas lento. Na opinião dos biohackers, esse processo não beneficia necessariamente o público quando se trata de uma doença que se espalha rapidamente.

“A fabricação em conformidade com o FDA é absurdamente regulamentada: papelada, multiplas verificações, intermináveis comitês, o pior da burocracia. Portanto, podemos ser mais ágeis”, disse o porta-voz.

Resposta Inadequada

Eles observaram que a Organização Mundial da Saúde (OMS) teve uma resposta inadequada, demorando demais para declarar a doença uma pandemia. Isso terá implicações sérias que ainda não podem ser contabilizadas, e infelizmente o custo será calculado em número de vidas que poderiam ter sido salvas.

Em última análise esse é um argumento a favor da descentralização, um dos pilares da filosofia blockchain. Devido à complacência contínua de várias instituições governamentais, infelizmente o COVID-19 se tornou uma pandemia global.

Por outro lado, o que vemos são pessoas comuns expressando profunda frustração e tomando atitudes concretas, ao invés ficar esperarando que legisladores e políticos encontrem uma solução.

Como outros empreendimentos adjacentes ao bitcoin (armas impressas em 3D, mercados negros online, etc ) a iniciativa provavelmente será rotulada como “polêmica” pela mídia e outros agentes do “establishment”.

A produção de medicamentos em conformidade com a FDA é ideal e ninguém discorda disso. Mas o aumento da complexidade no mundo atual torna esse marco regulatório ultrapassado e obsoleto para responder a uma emergência biológica nesta escala.

Inovação

“Não tenho problema com alguém tentando desenvolver algo de um jeito inovador. Afinal, ciência é isso mesmo!”, disse Nancy E. Kass, professora de bioética e saúde pública na Universidade John Hopkins.

“Mas seria prejudicial, problemático, confuso e enganoso começar a dizer que eles têm uma vacina eficaz sem que essa vacina não tenha sido submetida a testes de segurança e eficácia adequados “, disse ela, apontando as regras da FDA como orientação. O porta-voz da CoroHope concordou com esse sentimento.

“Não somos televangelistas tentando curar doenças com água-benta.” declararam.

“Mesmo se tivéssemos milhares de relatórios demonstrando que ministrar nossa vacina é seguro, ainda assim, não vamos declarar a vacina com sendo eficaz. Esse é realmente o domínio da agência governamental que regula o mérito, e não pretendemos minar a confiança do público no FDA. ”

Em resposta o órgão americano responsável pelo controle e prevenção de doenças, o CDC, sugeriu entrar em contato com o Instituto Nacional de Saúde, justificando ter recebido muitos pedidos de resposta. O FDA não respondeu a um pedido de comentário.

Responsabilidade Legal

Como o CoroHope está usando meios alternativos para desenvolver uma vacina, a equipe está assumindo vários tipos de risco, e não apenas de sucesso ou fracasso. Bryan Bishop, colaborador do Bitcoin Core (o software mais popular da rede bitcoin), se envolveu no projeto de biohacking “para organizar o desenvolvimento”, mas apenas por alguns dias depois.

Responsabilidade legal e passivo judicial são alguns dos motivos porque membros do projeto não revelam suas identidades, pelo menos por enquanto. Se a droga tiver efeitos adversos em pacientes que optarem pelo novo medicamente, isso pode gerar ações judiciais milionárias nos EUA.

Bishop apontou, numa recente entrevista para o New York Times, que nem o FDA nem as empresas farmacêuticas têm interesse em se envolver caso algo saia errado.

“O anonimato é preferível nesta fase, já que as preocupações de Bryan sobre responsabilidade são compartilhadas pelo resto do grupo”, disse o porta-voz. Pelo mesmo motivo, a equipe hesita em revelar alguns detalhes do projeto.

“Se temos pessoal médico, não podemos afirmar ou negar. Estamos convidando ativamente qualquer pessoa com experiência relevante para ingressar em nosso projeto, e  incentivamos a resguardar a privacidade enquanto o fazem para maximizar a segurança de todos que trabalham nesse empreendimento”.

Cripto Crowdfunding

O CoroHope recebeu “apenas uma pequena quantidade de bitcoin até agora”, segundo o porta-voz. Livecoins conseguiu o endereço criptográfico onde estão sendo feitas as doações e até o momento deste artigo havia apenas pouco mais de $ 1 BTC (bitcoin).

Quando questionado sobre os valores doados, o grupo declarou que está incentivando os doadores a entrar em contato diretamente para obter um endereço de bitcoin individual.  “Por causa da natureza sensível à privacidade desse empreendimento”, usar endereços atualizados para cada transação ajudar a dificultar o rastreamento da origem dos fundos.

A rede blockchain onde o bitcoin existe (ou rede Bitcoin) é uma rede “permissionless”. Ou seja uma rede pública e qualquer um pode ver e rastrear qualquer transação a partir do endereço criptográfica da carteira de bitcoins.

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Sem Garantias

O coronavírus está se espalhando rapidamente, e não está claro quanto tempo levará para o CoroHope obter algo que realmente funcione.

“Isso não é uma cura”, CoroHope

No documento divulgado pela CoroHope mais detalhes explicando seus planos estão a disposição para o público.

“As vacinas não testadas provavelmente são ineficazes e vêm sem garantias. Isso se aplica a qualquer medicamento desenvolvidos seja por um governo, uma grande corporação ou um grupo de biohackers. Nossa maior prioridade é garantir que qualquer vacina que venha a ser criada por nós não seja prejudicial, e sua eficácia potencial é secundário para a sua segurança”.  A declaração foi feita como forma de reforçar a cautela e não criar uma expectativa infundada ou propaganda enganosa, disse o porta-voz.

“Qualquer vacina como essa tem uma pequena chance de funcionar (talvez 20% para a vacina da Inovio) e menos para a nossa porque não temos milhões de dólares para otimização”, continuou o porta-voz. “Porém, ao fazer a análise de custo-benefício, mesmo uma pequena chance de funcionar valerá o investimento.”

“Salve uma vida e o mundo será salvo”

Outros biohackers compartilham o desejo de contornar os problemas dos sistemas tradicionais. Por exemplo, biohackers anarquistas e transgenders vêm trabalhando para produzir estrogênio e insulina no estilo “faça você mesmo” e assim evitar um sistema médico que muitas vezes é desagradável para eles.

Mas enquanto a biohacking é um movimento crescente, a iniciativa para obtenção de uma vacina é bastante nova. “Até onde sabemos, ninguém ainda fez uma vacina biológica”, disse o porta-voz da CoroHope. Uma abordagem pioneira pode fazer mais sentido com um vírus tão mortal, argumentou.

“O COVID-19 talvez seja o vírus mais perigoso desde 1918, pelo menos desde o surgimento de práticas de biohacking”, disseram eles.

O CoroHope tem um plano. Eles estão tentando criar a vacina chamada de plasmídeo, inspirada no projeto da Inovio Pharmaceuticals. Após testes bem-sucedidos a empresa com sede na Pensilvânia disse que estará pronta para testes em humanos já em abril.

A pequena equipe do CoroHope tem uma pessoa num laboratório experimental com outra “de plantão” aguardando, caso consigam receberem doações suficientes para bancar custos essenciais, além de algumas pessoas na área administrativa.

Open Source

O grupo planeja colocar em domínio público todas as seqüências de DNA e informações sobre equipamentos que desenvolver para que qualquer pessoa possa inspecionar, modificar ou usá-las. Essa prática é comum no meio, assim como software de código aberto.

“Nosso biólogo fabricou vacinas de DNA plasmídico em escala com várias gramas especialmente para ensaios clínicos”, disse o porta-voz da CoroHope. Eles também fabricam biomoléculas há mais de uma década e a experiência é relevante. Ainda que qualquer biólogo molecular possa fabricar plasmídeos com um kit, fazê-lo em escala industrial requer conhecimento especializado, e isso a gente já tem. Enquanto fazemos testes de controle de qualidade para garantir que a vacina seja segura, não poderemos testá-la em ensaios clínicos ou em modelos animais. Vamos deixar essa parte do processo para ser resolvida pela comunidade”, afirma documento diz.

Isto pode ser útil, pois mesmo se a vacina da Inovio ou outra vacina é aprovada em breve, a fabricação de doses suficientes para todos vai levar algum tempo”, disse o porta-voz.

“Se alguém estiver no fim da fila, a pessoa tem direito de fazer algo pra salval sua própria vida. Nosso objetivo final é disponibilizar nossa vacina para qualquer pessoa nessa situação mas conhecendo os riscos envolvidos.”

Como noticiado em varias midias internacionais, na Italia muitos hospitais tem enfrentado o dilema de escolher pacientes que receberiam atendimento devido ao alto volume de casos e a limitada quantidade de recursos disponíveis.

A iniciativa da CoroHope juntamente com a comunidade bitcoin simboliza o retorno a práticas de um passado distante, onde a assistencia do governo era incerta e comunidades tinham que resolver seus proprios problemas. A diferença é que agora a “comunidade” vive numa aldeia global e conta com a tecnologia blockchain.

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