Porque o dólar está caindo? Agora é hora de comprar Bitcoin? Confira o que pensam os especialistas

Porque o dólar está caindo? Porque o Bitcoin caiu em vez de subir com a guerra? Agora é hora de comprar Bitcoin? Especialistas comentam estas e outras questões relacionadas ao atual conflito entre Rússia e Ucrânia

Porque o dólar está caindo? Agora é hora de comprar Bitcoin? Porque o Bitcoin caiu em vez de subir com a guerra? Estas e outras perguntas surgiram diante da invasão da Rússia na Ucrânia, e o mercado internacional tem demonstrado temor sobre os desdobramentos do conflito o que acabou impactando também o mundo das criptomoedas.

Diego Velasques, consultor financeiro e criador do Vela Trader, explicou que as criptomoedas, embora sejam uma alternativa ao mercado tradicional ainda estão intimamente ligadas as questões macroeconômicas.

“O mercado de criptomoedas hoje está muito relacionado com o mercado internacional, mesmo que não seja um ativo que não tenha inflação e que seja um porto seguro para eventuais crises e catástrofes globais. Você tem essa correlação com bitcoins com SP500, que é o conglomerado das 500 maiores empresas dos Estados Unidos. Quando tem alguma política que influencia no preço dos ativos internacionais, isso acaba atingindo o mundo das criptomoedas”, disse.

Ele ainda pontua que as incertezas no mercado acabam gerando venda de ativos e saída de posições, por conta de picos de pânico e crises e que os criptoativos não estão isolados deste contexto global.

“Tudo que gera incerteza no mercado acaba influenciando-o. Isso acaba derrubando o mercado onde as pessoas enxergam como oportunidade de operar vendido e ganhar em eventual queda, dando ainda mais pressão na força vendedora. A associação com a Rússia afeta todos os mercados, mas tende a afetar cada vez menos o mercado cripto. Quanto mais o mercado crescer, menos esses cenários serão acessados”, aponta

Já no mercado brasileiro, segundo Diego, não impacta em nada o mundo das criptomoedas, a única forma de impactar é no cambio do real com o dólar americano e por ser um mercado novo, muitas vezes, pode acabar gerando incertezas e desconfianças para quem investe. Porém, o especialista dá dicas para como evitar os impactos negativos nas finanças.

“Conforme o tempo passa, as bitcoins serão um porto seguro para não ter impactos negativos. Porém, estamos falando em um ativo novo, o Bitcoin foi criado em 2008. A expectativa é que a explosão de investidores, que adotam o modelo cripto, siga em constância, conforme o aumento do valor total de mercado e quantidade de investidores, a volatilidade tende a diminuir, e com o passar do tempo as pessoas entenderão o seu valor e o ativo não será mais impactado por influências externas”, destaca.

Bitcoin, Rússia e Ucrânia

Sobre o conflito, especialistas da Radio Caca (RACA) comentaram que a guerra mostrou ainda mais a força das criptomoedas.

“Assim que o conflito começou, os investidores temeram uma participação direta dos EUA e da Europa no conflito, o que poderia causar uma nova guerra mundial. No entanto, após as declarações de Biden e dos líderes europeus ficou claro que a resposta do Ocidente seria com sanções e não com armas, o que acalmou os investidores. Os atuais desdobramentos do conflito com sanções, confisco de depósitos, bloqueios em operações com cartões, entre outros, indicam que as criptomoedas se fortaleceram não apenas como hedge, mas principalmente como a principal alternativa para escapar das decisões desastrosas dos governantes”, apontam

Já Felipe Veloso, economista e fundador da Cripto Mestre, explica que, assim que a guerra se iniciou, os investidores tiraram o dinheiro de ativos de risco como criptomoedas para protegerem o patrimônio. Mas, após sanções como a saída da Rússia do Swift, o mercado inverteu e começou a agir de forma positiva.

“Já se especulava uma migração do capital russo para criptomoedas. E isso aconteceu. O russo não pode comprar dólares, mas pode, por exemplo, comprar stablecoins”, explica.

Veloso destaca também que oíndice de medo e ganância indica que os investidores estão pouco a pouco mais otimistas com o mercado. A Ucrânia já conseguiu por meio de doações US$ 1,1 milhão em Ethereum (ETH) e US$ 6 milhões em Polkadot (DOT), além de outras criptomoedas

Enquanto isso, a União Europeia planeja incluir as criptomoedas nas sanções financeiras contra a Rússia para evitar que elas sirvam para contornar a punição. A questão foi discutida em reunião dos ministros de finanças dos 27 países membros do bloco europeu.

“Outro fator importante é a Ucrânia aceitando doações em criptomoedas. Embora o volume não seja grande, esse é um marco significativo de que criptos podem ser usadas para resgates de pessoas, instituições e países sem intermediários”, afirma Andrey Nousi, CFA e fundador da Nousi Finance.

Para Tasso Lago, gestor de fundos privados em criptomoedas e fundador da Financial Move, o movimento do bitcoin é consequência da atitude de pessoas protegendo seus capitais também da desvalorização forte do rublo, moeda russa.

“O objetivo do bitcoin e de outras criptos é que pessoas sejam donas do seu próprio dinheiro sem intermediários tendo acesso livre ao patrimônio. Isso valida ainda mais as criptomoedas. Por isso, vejo o bitcoin cada vez mais forte nesse cenário. É preciso lembrar que o bitcoin, por exemplo, é finito e, com a demanda crescente indicando que pessoas querem guardar criptomoedas como proteção, teremos cada vez mais o bitcoin se valorizando podendo chegar a US$ 100 mil dólares nos próximos meses”, explica Tasso.

Dólar e Bitcoin

Tasso Lago comenta ainda que o conflito também fez baixar o valor do dólar no Brasil, tornando, por tabela, o Bitcoin mais barato no país, o que ajuda a favorecer o momento de compra.

“A baixa do dólar favorece que o bitcoin tenha uma cotação mais agradável ao mercado brasileiro porque, por exemplo, a tendência do dólar é de alta embora ele possa cair até R$ 4,7 em um cenário mais extremo, mas tende a se recuperar a médio e longo prazo. Ou seja, a gente consegue comprar bitcoin mais barato, pois o real está valorizado. Isso acontece porque o bitcoin é um ativo dolarizado”, disse.

Portanto, para os investidores brasileiros ele aponta que é preciso ficar de olho em duas variáveis: como o cenário internacional impacta o valor do dólar no Brasil e como as criptomoedas reagem ao conflito.

“A gente sempre paga o bitcoin por duas variáveis. Se o Dólar estiver com desconto, nós brasileiros conseguimos comprar Bitcoin com desconto, então hoje é uma vantagem se expor em um ativo dolarizado em momento que o Dólar está dando oportunidade de compra, e é bom aproveitar porque a tendência a médio e longo prazo é subir”, destaca.

Bitcoin e Real

Felipe Veloso também comenta que como o Bitcoin é indexado em dólar, então quando o dólar perde valor, o Bitcoin e todas as outras criptos também perdem valor em relação ao Real, e que isso é uma ótima oportunidade para os brasileiros comprarem mais bitcoins com menos reais.

“Em relação ao Real é automático. Um ativo muda de valor em relação a outro. Quando falamos em dólar baixo, falamos em dólar baixo em relação a algum outro ativo, nesse caso, o real. Enquanto com o dólar mais baixo em relação ao real, o Bitcoin também cai, em relação ao real. Por exemplo: 1 bitcoin = 40k dólares, com o dólar valendo 5.2 reais, o Bitcoin em reais seria 208 mil. Com o dólar valendo 5 reais, o mesmo Bitcoin, no mesmo preço em dólar de antes, valeria 200 mil. Ou seja, o preço do Bitcoin em dólar não muda, mas em real sim”, destaca.

Andrey Nousi, também argumenta que com o real mais forte perante o dólar o preço do BTC acaba ficando mais atrativo para os brasileiros o que indica uma oportunidade de compra

“Essa baixa do dólar alegadamente não é uma baixa, mas um fortalecimento do real diante do dólar. Quando você vê o índice DXY, que é o índice do dólar versus uma cesta de outras grandes moedas do mundo afora, ele tem se mantido estável e até mesmo se fortalecido, então temos que analisar que é o real que tem se fortalecido e não o dólar caindo e isso porque as taxas de juros no Brasil são maiores do mundo”, destaca.

Ele aponta ainda que, diante deste cenário, para o investidor estrangeiro fica muito mais fácil ter uma rentabilidade interessante nesse momento. Por isso, acaba tendo um fluxo interessante para o Brasil nesse momento em comparação aos outros mercados, mas isso acaba sendo um tipo de retorno não sustentável.

“Os investidores vêm para o Brasil simplesmente porque os juros estão altos, assim que os juros começarem a se normalizar para níveis menores é capaz que haja uma tendência com a migração de novo”, afirma.

Portanto ele alerta que os traders e investidores devem sempre observar a cotação do Bitcoin em dólar e não rem real, para não serem iludidos em um cenário de baixa ou alta que pode não se confirmar.

“Quando você olha o bitcoin, o mais prudente é observar a cotação em dólar, porque é a nomenclatura tradicional. Se você olhar o bitcoin em Real você estará poluindo essa análise, você teria que ver o Bitcoin x Dólar (BTC/USD) e Dólar x Real (USD/BRL). A cotação do BTC não tem nada a ver com o que acontece no Real e vice-versa, por outro lado a cotação Dólar x Real (USD/BRL) tem muito a ver com a economia brasileira com a americana”, finaliza.

E porque o dólar está caindo?

Rob Correa, analista de investimentos CNPI e autor do livro “Guia do Investidor de Sucesso no Longo Prazo“, destaca que há exatos dois meses atrás, US$ 1 estava sendo negociado por R$ 5,74. Hoje, US$ 1 está cotado a R$ 5,09. Uma queda de 11%.

Um dos grandes motivos para a recente queda, segundo ele, é a entrada de investidores estrangeiros no Brasil. Toda vez que os gringos investem no Brasil precisam converter os dólares em reais. Ou seja, eles precisam comprar a moeda brasileira para investir dentro do Brasil. 

“Como a entrada de recursos no Brasil supera a saída deles, acaba ocorrendo a valorização da moeda brasileira no curto prazo. Em outras palavras: o investidor gringo está ajudando a valorizar o real brasileiro”, disse

E por quais motivos os investidores estrangeiros estão investindo no Brasil? Segundo o especialista, devido a uma série de fatores, mas os dois principais são: o aumento da Taxa SELIC (fazendo com que a Renda Fixa pague mais); e os múltiplos das ações brasileiras bem abaixo da média histórica (tornando a Renda Variável descontada e atrativa).

“Quando o investidor estrangeiro pensa em Mercados Emergentes, ele pensa em uma cesta de países. No entanto, o Brasil se beneficiou porque os seus ‘concorrentes’ estão enfrentando grandes perrengues. A Rússia está envolvida no problema com a Ucrânia, a China sofre intervenção do governo toda semana, a Turquia está afogada em uma inflação descontrolada e sem solução. Acabou sendo um somatório de condições favoráveis para o gringo observar o Brasil com bons olhos”, aponta.

Ainda segundo ele, fazer previsões sobre o futuro já é extremamente complicado. Mas fazer previsões sobre o câmbio é um grande destruidor de analistas de mercado. São tantas variáveis que influenciam a cotação da moeda americana, que é humanamente impossível fazer uma previsão com certo grau de confiabilidade.

No entanto, ele também destaca que,  no longo prazo, o mercado é como uma balança de peso, sempre mostrando a substância que está por trás. Ou seja, em longos horizontes de tempo, os fundamentos prevalecem sobre os sentimentos diários dos participantes – sejam eles bons ou ruins.

“Exatos 10 anos atrás, em fevereiro de 2012, US$ 1 estava sendo negociado por R$ 1,72. Hoje, como mencionado anteriormente, US$ 1 está cotado a R$ 5,09. O investidor com horizonte de longo prazo que dolarizou parte do seu patrimônio está sorrindo de orelha a orelha”, finaliza.

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