‘Bitcoin pode chegar a US$ 200.000 porque tem uma bolha atômica rolando aí, mas não me atrai’, diz André Esteves, do BTG

Banqueiro diz estar intrigado com a atual valorização do Bitcoin, mas disse acreditar que o futuro passa por moedas digitais de bancos centrais e finanças descentralizadas, mas dificilmente o BTC será uma moeda global.

No dia seguinte em que o Bitcoin (BTC) registrou sua nova máxima histórica, o banqueiro André Esteves, ex-presidente e sócio do BTG Pactual, revelou a um grupo de clientes do banco em uma reunião fechada que não gosta do BTC e que acha que a maior criptomoeda do mercado pode estar sobrevalorizada.

O áudio vazado da íntegra da reunião foi divulgado pelo portal Brasil 247 no domingo. Já no final da reunião, respndendo a uma pergunta da plateia, Esteves fez piada com o preço do Bitcoin e arrancou gargallhadas dos presentes ao evento:

“Bitcoin!? Ah tá barato aí, US$ 66 mil… eu acho um espetáculo, uma coisa sensacional”.

Retomando a seriedade, Esteves revelou que as criptomoedas estão na ordem do dia da da cúpula do BTG Pactual e são tema de discussões recorrentes. Depois de mencionar o lançamento da plataforma de negociação de ativos digitais do próprio banco, o banqueiro disse estar se sentindo muito atraído por tecnologias subjacentes às criptomoedas, como as redes blockchain e o ecossistema de finanças descentralizadas. 

O banqueiro previu, inclusive, que nos próximos dez anos as operações financeiras vão mudar totalmente em alinhamento com as inovações propostas pelos protocolos DeFi e as moedas digitais de bancos centrais (CBDCs).

No entanto, expressou reservas quanto ao principal criptoativo do mercado, questionando se o BTC realmente tem o valor expresso por sua cotação atual, acima de US$ 60.000. Em seguida, ofereceu um conselho aos investidores:

“O Bitcoin tem valor nesse preço? Eu não sou um entusiasta. Se alguém aqui quiser fazer alguma coisa Eu não sou um entusiasta. Se alguém quiser fazer alguma coisa aqui, eu recomendaria uma parcela pequena do patrimônio para poder testar, entender e aprender, e não usar alavancagem.”

Fazendo projeções sobre o futuro do Bitcoin, Esteves relatou uma conversa com o CEO do SoftBank na América Latina, Marcelo Claure, e disse não duvidar de que o Bitcoin chegue aos US$ 200.000 devido ao que ele classificou como uma “bolha atômica” que paira sobre o mercado de criptomodas.

No entanto, disse não se entusiasmar pela narrativa de que o Bitcoin seria o ouro digital, até porque ele não considera o metal precioso uma boa opção de investimento:

O problema é que eu já não gosto do ouro, então o ‘digital gold’ também não me atrai… Ouro não paga copom, não tem dividendo, não tem juros, é uma coisa horrorosa, mas dá pra fazer um colar legal”.

Apesar das críticas e da desconfiança, o sócio do BTG Pactual reconheceu que o Bitcoin está se configurando como um instrumento importante de proteção do patrimônio em países política e economicamente instáveis, como Argentina, Venezuela e Turquia.

Em seguida, ele traça uma analogia entre o serviço prestado por doleiros nas décadas de 1980 e 1990 em países subdesenvolvidos vitimados por inflação alta e moeda fraca e o Bitcoin nos dias de hoje. Segundo esta comparação, o Bitcoin teria assumido essa utilidade funcional que o dólar norte-americano tinha no final do século passado.

Embora reconheça que essa funcionalidade o deixe “intrigado” e também o inegável aumento da demanda por parte dos investidores globais, ainda assim ele manifestou grandes reservas em relação a real utilidade de um ativo digital de origem obscura:

“Eu não vejo isso como moeda global, é muito volátil, muito insegura, uma história que ninguém sabe quem criou, um cara tem 20% de todo estoque. Há de convir que é uma história muito doida… mas eu não critico quem tem alguma coisa nesse contexto de ‘digital gold'”.

Após uma breve interrupção que desviou o foco para outros assuntos, um integrante da plateia retomou o tema perguntando qual seria a atitude dos bancos centrais diante do crescimento indiscriminado e sem regras do mercado de criptomoedas.

Em sua resposta, Esteves afirmou que os bancos centrais não vão abrir mão de um sistema de controle de capitais, usando como justificativa a prevenção à lavagem de dinheiro e de outros crimes financeiros. A inovação terá limites, garantiu o banqueiro:

“Eles [reguladores] vão deixar as criptomoedas andarem, porque a inovação faz parte da evolução, mas vai ser muito resistente a qualquer ameaça a esse sistema de controles de capitais. Principalmente os governos centrais. Você viu que a China já deu umas pancadas nesse mundo. Os Estados Unidos tem um lobby enorme no Congresso para não restringir isso, porque já se criaram grandes empresas, o Bitcoin tem US$ 2 trilhões [de valor de mercado], mas eu acho que vai ter muito mais regulação do que tem hoje. Primeiro vem o faroeste e depois vem o xerife, é sempre assim.”

Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente, o CEO do BTG Pactual, Roberto Sallouti, sugeriu cautela aos clientes do banco interessandos em investir em criptomoedas. A recomendação dos analistas do BTG é de uma alocação de no máximo 2% do portfólio em Bitcoin ou Ethereum.

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