‘Antes de pular de cabeça no mundo cripto, nunca coloque todo o seu patrimônio em uma única posição’ declara Thaís Ferri da Miura Investimentos

‘O ideal é que as criptomoedas ocupem uma parte pequena da sua carteira, em meio à uma estratégia de diversificação de ativos apenas para dar aquele “tempero””, diz Thaís Ferri da Miura Investimentos

Recentemente o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, manter a taxa Selic em 2,00% a.a e, com isso, mantendo a rentabilidade da poupança no prejuízo.

Desta forma, temendo a inflação, a primeira decisão do ano do Comitê foi um banho de água fria no investimento preferido dos brasileiros, a caderneta de poupança e que, em 2020, passou a marca histórica de R$ 1 trilhão.

Mas, diante deste cenário, quais são os investimentos que podem trazer uma rentabilidade em 2021? Ações, criptomoedas, fundos multimercado, BDRs?

Buscando traçar um panorama sobre o tema, o Cointelegraph conversou com Thaís Helena Pereira Ferri, sócia da Miura Investimentos.

Ferri é formada em Direito pela FVR Unisepe e com atuação há mais de 8 anos no mercado financeiro e possui certificações CPA-10, CPA-20 (Anbima) e Ancord (CVM).

Poupança no prejuízo

Segundo Ferri, a poupança deixou de ser o produto mais indicado mesmo para alguém com perfil conservador.

A especialista argumenta que com rendimento aproximado de 1,4% ao ano, infelizmente ela não supera nem a inflação que passa a acumular um avanço de 4,52%.

“Essa é a ilusão de juros nominal – que não desconta a inflação. E se seu investimento está perdendo para a mesma, você está subtraindo riqueza, mesmo com a isenção de IR (Imposto de Renda)”, declara.

Para os perfis conservadores, a especialista indica os títulos do Tesouro Direto.

“Na linha do perfil conservador, investimentos confiáveis por serem garantidos pelo governo federal, os títulos do Tesouro Direto proporcionam uma rentabilidade maior. E podem também agradar outros perfis”, afirma.

A especialista não descarta também os investimentos em CDBs, LCI, LCA e Debêntures.

“Por outro lado, na esfera privada, os CDBs (Certificado de Depósito Bancário) são uma excelente opção para aqueles que procuram liquidez e segurança. Quando mesclamos CDBs de liquidez diária para reserva de emergência, CDBs com prazos médios e CDBs com prazos mais longos, potencializamos a rentabilidade dessa carteira em um produto totalmente conservador. 

Alguns investimentos da categoria de renda fixa, por exemplo, LCI (Letra de Crédito Imobiliário) e LCA (Letra de Crédito do Agronegócio), LF (Letra Financeira), LC (Letra de Crédito) e Debêntures, são também ótimos produtos para um portfólio bem diversificado”.

Fundos de investimento

Ferri afirma ainda que tão importante quanto diversificar é encontrar o seu perfil de investidor e o objetivo para o seu investimento, seja ele de curto, médio ou longo prazo.  

Ela destaca ainda que com a SELIC a 2% o número de investidores na bolsa, segundo dados da B3, dobrou em plena pandemia. O número de contas cadastradas foi de 1,6 milhão em 2019 para 3,17 milhões em 2020; A B3 vê o investidor mais resiliente e diversificado no mercado de ações. 

Neste cenário ela pontua também que é preciso olhar para os fundos de investimento.

“Não podemos esquecer também dos fundos de investimentos que podem agradar tanto ao perfil de um investidor conservador a um arrojado. Por ter características específicas para cada perfil e acessibilidade, os fundos possuem estratégias variadas onde em um único fundo o investidor pode estar exposto a vários outros ativos. 

Em 2015, nós vivemos uma SELIC a patamares de 14,25% e não precisava tomar risco para se ganhar muito. No atual cenário, com a SELIC a 2%, é preciso reavaliar o perfil se o objetivo for maior rentabilidade. 

Bitcoin

Atenta ao mercado, Ferri avalia que os fundos que investem em criptomoedas são para investidores com perfil sofisticado.

Isso ocorre, porque, segundo ela, embora as criptomoedas estejam em alta procura, principalmente pela explosão da valorização do Bitcoin nos últimos meses.

“Mas é preciso lembrar que eles são extremamente voláteis”, disse.

Desta forma destaca que os fundos multimercados de criptomoedas são compostos em sua maioria por diversas outras criptomoedas não somente o BTC. 

“Um dos motivos para “bull” no mercado de criptomoedas é um evento que mexe com a relação de oferta e demanda do bitcoin e impacta também os preços de outras moedas digitais. O “halving”, evento que acontece a cada quatro anos e reduz pela metade a emissão de novas moedas. O último episódio, ocorrido em maio de 2020, foi um dos gatilhos para valorização do BTC”, afirma.

CVM

Ainda de acordo com Ferri, o fato dos fundos multimercado com exposição em criptoativos serem aprovados pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é um grande avanço no mercado financeiro, uma vez que, essas moedas foram muito criticadas em seu início por investidores institucionais e hoje é notável uma mudança de mentalidade. 

“O ponto positivo é que as criptomoedas são descentralizadas e o Banco Central não pode alterar o funcionamento da mesma. O BTC por exemplo, o próprio Ray Dalio, fundador da Bridgewater Associates, gestora que tem mais de US$ 130 bilhões sob gestão, que criticou o bitcoin no passado, reconheceu em 2020 que há espaço para as criptomoedas como reserva de valor, junto com o ouro”, declara.

A investidora destaca aqui que a volatilidade no mercado de criptoativos “que hoje pode valer muito e amanhã nem tanto, ou vice e versa” além de outros fatores como se uso da Deep Web e outras atividades ilícitas pesa contra as criptomoedas. 

Contudo, segundo ela, independente dos prós e contras é inegável que elas vem crescendo substancialmente nos últimos anos, embora os governos não reconheçam seu uso.  

Porém ela destaca que por mais que os ganhos em criptomoedas sejam explosivos e tenham potencial para continuar a acontecer, não dá para se basear nos ganhos passados para buscar lucros futuros.   

“Antes de você pular de cabeça no mundo cripto, nunca coloque todo o seu patrimônio em uma única posição. O ideal é que elas ocupem uma parte pequena da sua carteira, em meio à uma estratégia de diversificação de ativos apenas para dar aquele “tempero”. 

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