Como Bancos Centrais enriquecem
As práticas de investimento de funcionários do Banco central na Suécia e nos Estados Unidos levantaram sérias questões éticas, se eles deveriam ser capazes de negociar quando suas políticas costumam influenciar os mercados.
Seis altos funcionários do Banco Central sueco Riksbank ganharam milhões de dólares investindo em ações e fundos – ganhos que podem ter sido influenciados pelas decisões de política do banco durante a crise da covid-19, revela um novo relatório.
Entre maio de 2020 e outubro de 2021, os funcionários, incluindo o governador do Riksbank Stefan Ingves, investiram um total combinado de cerca de 30 milhões de coroas suecas – o equivalente a cerca de US$ 3,6 milhões em ações e fundos, de acordo com o relatório da SvD Näringsliv, uma empresa de mídia local.
No entanto, durante a crise da covid-19, Ingves e sua equipe – todos os envolvidos fazem parte do Conselho Executivo do Riksbank – , tomaram decisões que supostamente visavam melhorar o funcionamento do mercado, mas acabaram influenciando na alta dos preços das moradias e levando o mercado de ações sueco à altas recordes.
A decisão de imprimir dinheiro novo e, ao mesmo tempo, manter um teto baixo para as taxas de juros afetou os preços das ações e dos imóveis, o que enriqueceu muito os principais formuladores de políticas, afirma o relatório. O texto também cita a compra de grandes quantidades de títulos corporativos pelo banco como um incentivo para os lucros realizados por seus funcionários.
Funcionários do alto escalão ficam ricos
O governador Ingves colheu a maior recompensa em termos de valor, diz ele. Sua carteira, que inclui “um fundo de índice sueco, um fundo de taxas de juros de curto e longo prazo e ações em mais de uma dúzia de grandes empresas suecas”, cresceu cinco milhões de kronas – passando de US$ 600.000 para 24 milhões de kronas ou US$ 2,88 milhões.
Ingves aproveitou a crise para reforçar sua participação acionária na Scandinavian Airlines (SAS), que lançou novas ações para levantar capital. O relatório diz que várias empresas na carteira do governador se beneficiaram “da impressão de notas do Riksbank e da controversa decisão do banco de – pela primeira vez na história – comprar os chamados títulos corporativos”.
Durante o período em análise, o Riksbank comprou títulos de cerca de 60 grandes empresas suecas. A ideia era manter baixas as taxas de juros dos títulos – “reduzindo assim os custos de empréstimos das empresas”. Tanto Ingves quanto sua vice, Cecilia Skingsley, possuem ações em companhias cujos títulos foram comprados pelo banco.
As firmas incluem a empresa florestal SCA, a de higiene Essity, a industrial Epiroc, a gigante das fechaduras Assa Abloy, a empresa de engenharia Sandvik e outras.
No caso de Skingsley, a vice-chefe do Riksbank vendeu quase todos os seus fundos por cerca de US$ 240.000 pouco antes da crise. Mas, quando os mercados começaram a cair, o banco central interveio com um pacote de estímulo apoiado por Skingsley e ela comprou de volta a maior parte de suas ações com desconto, por apenas US$ 60.000. Ela ainda não declarou a economia, segundo o relatório.
Anna Breman, outra vice-governadora, continuou a investir “grandes somas de dinheiro na bolsa de valores enquanto votava por meio de estímulos massivos”. No total, o tamanho das economias de seu fundo, que visam principalmente o desenvolvimento sustentável, aumentou quase 40% para 1,8 milhões de coroas suecas ou US$ 216.000 durante a pandemia. Breman conduziu a política do Riksbank no sentido de conter os impactos das mudanças climáticas.
De acordo com o relatório, outros governadores de bancos centrais também economizam regularmente em fundos. O vice-governador Martin Flodén possui unidades em 11 grandes fundos de ações. O valor desses fundos aumentou acentuadamente durante a crise; de 1,2 milhões de coroas – (US$ 144.000) para 1,6 milhões de coroas (US$ 192.000).
Banco Central e controvérsia ética
É crucial observar que nem a negociação de títulos da Ingves, Skingsley e Breman viola a lei do Riksbank. No entanto, a prática levantou sérias questões éticas, se os funcionários de bancos centrais deveriam ser capazes de negociar quando suas políticas freqüentemente influenciam os mercados.
Nos Estados Unidos, o Federal Reserve foi forçado a estabelecer novas regras mais rígidas para reduzir o risco do que poderia ser interpretado vagamente como “negociações privilegiadas” envolvendo formuladores de políticas de alto escalão. O banco central proibiu funcionários e altos funcionários de possuir ações individuais em certas empresas, e investir em títulos ou contratos de derivativos.
As autoridades ainda podem investir em títulos de base ampla, como fundos mútuos, disse o Fed, mas os fundos não podem ser vendidos por pelo menos um ano e os detentores devem avisar com 45 dias de antecedência antes de qualquer negociação. As regras também afirmam que os formuladores de políticas não terão permissão para fazer negócios quando houver “maior estresse no mercado financeiro”.
As medidas abrangentes vêm na sequência de divulgações de que vários funcionários do Federal Reserve, incluindo o presidente Jerome Powell, negociavam ações durante a crise, enquanto aprovavam políticas que injetavam trilhões de dólares na economia dos Estados Unidos.
O chefe do Fed de Dallas, Robert Kaplan, negociou milhões de dólares em ações de empresas como Amazon e Delta Airlines. O chefe do Fed de Boston, Eric Rosengren, negociou quantidades menores de títulos vinculados a imóveis, de acordo com relatórios. Os dois presidentes de bancos centrais regionais renunciaram após a notícia.
Havia regras nos Estados Unidos que procuravam restringir esse tipo de exagero ético. Agora eles estão mais resistentes. É provável que a Suécia siga o mesmo caminho, mas nada aconteceu ainda que sugira uma mudança na legislação do Riksbank para limitar a capacidade das autoridades de economizar e tomar empréstimos.
Os banqueiros costumam criticar criptomoedas como o Bitcoin, apontando sua percepção de falta de valor intrínseco e volatilidade como fatores que prejudicam sua utilidade como meio de troca ou reserva de valor. O gerente geral do Banco de Pagamentos Internacionais (BIS), Agustin Carstens, disse anteriormente:
“Para que o dinheiro digital exista, o Banco Central deve desempenhar um papel central, garantindo a estabilidade do valor, garantindo a elasticidade da oferta agregada desse dinheiro e supervisionando a segurança geral do sistema”.
No entanto, pelo que foi dito, fica claro que os banqueiros de bancos centrais não são exatamente um modelo de virtude.
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