Banco Central na contramão do PIX e momento ‘vintage’: o que dizem especialistas sobre a nota de R$ 200

O anúncio da cédula de R$ 200 pelo Banco Central (BC), na última quarta-feira (29), causou estranhamento junto a especialistas do mercado financeiro e de pagamentos. Afinal, trata-se da mesma instituição que é responsável pelo desenvolvimento do PIX, o sistema de pagamentos instantâneos brasileiro — e que carrega potencial para reduzir a demanda por dinheiro físico à medida que se popularizar.

As comparações com o PIX foram tema da maior parte das perguntas direcionadas ao BC durante a coletiva de imprensa da última quarta-feira (29), na qual a novidade foi anunciada.

O BC bate na tecla de que o lançamento da nova cédula de real não concorre em nada com o esforço de promoção da digitalização dos meios de pagamento, representado basicamente pelo PIX. O novo serviço deve estar disponível para a população a partir de 16 de novembro.

“Essas agendas não concorrem. É papel do Banco Central atender a demanda por meio circulante. E isto não concorre com uso de meios de pagamento digital”, disse a diretora de Administração do BC, Carolina de Assis Barros, durante a coletiva.

A instituição alega ainda que está agindo de forma preventiva frente a um entesouramento recorde em razão da pandemia do novo coronavírus.

Segundo o Banco Central, já há R$ 342 bilhões em numerário em circulação, superando o montante que era previsto para o final do ano (R$ 301 bilhões).

Momento ‘vintage’ do BC

Tais justificativas, no entanto, ainda não satisfazem especialistas, que veem contradição entre discurso e prática por parte do Banco Central.

“O governo diz que precisa combater sonegação. A nova cédula de R$ 200 não vai ajudar muito neste propósito. Os traficantes, sonegadores e outros bandidos que operam com dinheiro vivo agradecem: a nova cédula de R$ 200 vai facilitar a logística do transporte e do armazenamento”, critica o economista Rafael Paschoarelli, professor de Finanças da FEA-USP.

Bruno Diniz, professor da FGV (Fundação Getulio Vargas) e autor do livro “O Fenômeno Fintech”, vê no lançamento uma contradição no discurso de modernidade empreendido pela autoridade monetária brasileira.

“Sabemos que o papel-moeda não vai acabar do dia para a noite. Mas é um ‘momento vintage’ do Banco Central de emitir dinheiro em um momento no qual um dos sistemas mais modernos de pagamentos do mundo [o PIX] está para sair. Nenhuma argumentação do BC vem tendo grande sentido [para justificar a nova cédula]”.

Para o consultor de finanças Edson Santos, autor do livro “Do Escambo à Inclusão Financeira – A Evolução dos Meios de Pagamento”, a única justificativa plausível para o Banco Central lançar uma nota de R$ 200 é a tentativa de reduzir custos com a emissão de dinheiro em papel.

“Fora isso não há qualquer justificativa. Dessa forma o Banco Central vai na contramão do que tem sido feito por outros países do mundo quanto a digitalização de pagamentos”.

Meios de pagamento digital crescem

O estranhamento aumenta quando são analisados dados recentes sobre meios de pagamento no contexto da pandemia do novo coronavírus.

Relatório recente da Febraban (Federação Brasileira de Bancos) indica que clientes pessoas físicas fizeram 74% das transações bancárias pelos canais digitais em abril — ou seja, ainda nas primeiras semanas de confinamento.

Essa digitalização deve se acentuar com a entrada do PIX no mercado. Sua premissa é de tornar uma transação financeira algo tão simples quanto enviar uma mensagem de WhatsApp.

Estudo realizado pela consultoria Boanegers, divulgado pela agência Reuters, aponta que deve o PIX deve acelerar a redução do uso do papel moeda para cerca de metade do que representa atualmente em um espaço de dez anos (de 29% das transações atuais para até 14% em 2030).

Atualmente em fase de homologação, o PIX já conta com a adesão de 980 instituições financeiras e tem data de estreia marcada para 16 de novembro. Um Soft Opening, uma espécie de grande ensaio geral para o serviço, está agendado para 3 de novembro.

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