B4 relata suspeita de lavagem de dinheiro ESG e barra 99% das tentativas de listagem na ‘bolsa de tokens de crédito de carbono’
Lançada há duas semanas, empresa informou que aprovou apenas 1% dos 20 milhões de créditos de carbono ofertados à plataforma.
Lançada no último dia 16 de agosto com a perspectiva de atingir até R$ 12 bilhões em negociações em seu primeiro ano de operação, a B4, uma plataforma que se apresenta como “primeira bolsa do Brasil voltada ao mercado de créditos de carbono”, relatou propostas de listagem de empresas que alcançaram 20 milhões em “créditos de carbono” dos quais apenas 1% foi aprovado pela B4, segundo informações veiculadas pelo jornal O Estado de São Paulo.
A B4 também relatou que a abertura da mesa de negociações acontece nesta quarta-feira (30) e que já recebeu 30 pedidos de compra de créditos de carbono, no montante de aproximadamente R$ 88 milhões, que ainda estariam em fase de negociação.
Para o fundador da B4, Odair Rodrigues, a reprovação massiva representa um sinal de alerta para possíveis tentativas de lavagem de dinheiro através de tokens atrelados a falsos projetos ESG (sigla em inglês para práticas ambientais, sociais e de governança).
Segundo ele, algumas empresas estrangeiras tentam listar seus tokens fora de seus países de origem porque seus créditos de carbono já não são aceitos nesses países. Entre os motivos que levam esses créditos a perderem a validade, segundo o executivo, é a falta de inventariado e acompanhamento desses créditos.
No caso da reprovação da B4, ele revelou que a plataforma conseguiu diversos relatórios que apontavam, por exemplo, para áreas de queimadas em locais atrelados a créditos de carbono por projeto que indicavam conservação florestal desses locais.
Rodrigues ainda apontou que a reprovação da listagem de diversas empresas ocorreu porque elas perderam o mandato sobre seus créditos. O que pode ter ocorrido pela venda dos respectivos créditos a uma corretora pela empresa titular, fator que não dá segurança para a listagem pela falta de garantia de quem é o verdadeiro dono, em razão da pluralidade de intermediadores.
Nesse caso, a sondagem da B4, de acordo com o representante da plataforma, está no levantamento de informações, como duplicidade de negociação, no caso a oferta dos mesmos créditos por outra empresa, trabalho que é facilitado pela rastreabilidade da tecnologia blockchain.
Ele acrescentou que, apesar de o problema da duplicidade já ser conhecido no mercado de crédito de carbono e a blockchain representar uma ferramenta poderosa no combate ao problema, a regulamentação pode ser um divisor de águas para a consolidação desse segmento no Brasil.
No Senado Federal, uma iniciativa nesse sentido foi um projeto apresentado no último dia 21 pela relatora senadora Leila Barros (PDT) com normativas sobre o mercado de créditos de carbono no país, uma proposta que traça um recorte horizontal sobre emissões de CO2 e não por segmento das empresas.
Sobre a proposta, Odair elogiou o projeto pelo prisma do apoio a projetos sustentáveis, mas disse que a normatização por este molde pode trazer certa confusão ao alegar que os créditos de carbono se transformam em ativos e se converterem em lucro. Isso porque, nas Organizações Não Governamentais (ONGs), há redução de imposto a empresas patrocinados de projetos ESG, mas não há possibilidade de lucro por esse caminho.
No campo da desconfiança sobre tokens que se apresentam como atrelados a projetos ESG, a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) descartou recentemente a utilização desses criptoativos, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil.