No final de 2020, ainda existem clientes com esperanças que Atlas Quantum não seja golpe

Após um ano de problemas com saques, há clientes que enxergam a chance de serviços da Atlas serem legítimos.

 

Em agosto de 2019, a Atlas Quantum, ”startup” brasileira que oferecia rendimentos em criptomoedas e era considerada por alguns, uma das empresas mais proeminentes do setor, deixou de pagar seus funcionários e clientes. 

O processo de erosão da empresa começou com a proibição das ofertas de operações de arbitragem realizadas pela Atlas Quantum por parte da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que considerou a atividade da empresa não regulada para o mercado brasileiro. Desse instante em diante, os problemas da Atlas Quantum com os clientes buscando sacar seus saldos de forma repentina, devido ao medo de algum problema regulatório, desencadearam todos os problemas conhecidos publicamente há um ano.

Para a CVM, o problema não foi a oferta de Bitcoins, mas sim o sistema de arbitragem, conhecido como Quantum, que operava como HFT (High Frequency Trading) para realizar arbitragem de criptoativos e obter ganhos com isso.

As operações de arbitragem da Atlas Quantum consistiam em algo conhecido como arbitragem de Bitcoin, operação na qual a empresa buscava o valor mais baixo do ativo em determinados mercados e o revendia com ágio no valor mais alto em outros mercados, com essas operações a plataforma oferecia retornos aos clientes de aproximadamente 5% ao mês e até 60% ao ano.

De acordo com o órgão, as ofertas da Atlas Quantum configuravam Contrato de Investimento Coletivo (CIC), que só podem ser ofertados publicamente mediante registro ou dispensa na CVM. Durante 2017 a 2019, os ganhos médios chegaram a 120%, sendo repartido igualmente, entre a Atlas Quantum e seus clientes. A CVM levou dois anos para questionar os negócios da Atlas Quantum

Um ano depois, ainda não houve uma solução definitiva para a questão dos saldos bloqueados, dos quais a Atlas Quantum alega que estão presos nas diversas exchanges que diante de uma enxurrada de pedidos de saque, os bloqueou como medida de segurança. Em busca de solucionar o problema dos saques em atraso, a Atlas Quantum criou o BTCQ, e transformou o saldo dos clientes em uma criptomoeda que deveria ter o preço pareado com o ‘verdadeiro Bitcoin’.

A maioria dos antigos clientes da Atlas Quantum, enxergam na empresa mais um caso de golpe, como tantos outros. Já que eles continuam sem receber seus saldos e sem qualquer perspectiva de resolução desse conflito.

Contudo, há clientes que não comungam da mesma visão. Entrevistei alguns desses raros clientes. 

Ricardo Pinzon

Especialista tributário, dono da Laissez Faire Consultoria, do Rio Grande do Sul, enxerga na questão da Atlas um mix de FUD (Fear, Uncertainty and Doubt – Medo, Incerteza e Dúvida) e má vontade por parte da CVM.

A Atlas não tem característica de pirâmide, pois ela remunerava pouco e não tinha formação de rede. O que aconteceu com a empresa, foi uma enxurrada de pressões por todos os lados, incluindo Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e Receita Federal. Enquanto as demais empresas foram fechando por golpes, a pressão caiu toda sobre a Atlas porque era a empresa de criptomoedas mais relevante do mercado e não tinha nada a ver com os esquemas típicos de pirâmide”.

Manoel Paiva

Proprietário de um açougue em Baixo Guandu, no Espírito Santo, também enxerga na ação da CVM o gatilho para todos os problemas da Atlas Quantum.

“Em linhas gerais, eu acredito que a Atlas trabalhava alavancada, uma alavancagem saudável, que muitas vezes pode ser confundida com um esquema de pirâmide. O que não era o caso. O grande o problema é que o Estado através de sua burocracia, entenda-se CVM, jogou um holofote em cima da Atlas. Um holofote de medo e desconfiança. Medo e desconfiança são o combustível para o que aconteceu. Todo mundo resolveu converter Bitcoin em real dinamitando a posição alavancada da Atlas.”

  

Otávio Gonçalves

Controller e especialista em comércio exterior de São Paulo, foi o terceiro cliente da Atlas, segundo o próprio e também vê no excesso de saques a causa dos problemas que acometeram a Atlas.

“Minha opinião é que as exchanges bloquearam preventivamente as contas por causa das notícias da CVM e que posteriormente alguns clientes grandes também conseguiram pedir o bloqueio em cortes internacionais com medo de não receber. Eles perceberam que haveria uma enxurrada de gente querendo sacar de imediato e certamente fizeram um plano de segurar por um período evitando está saída em massa.”

 

Maria Luíza Silva 

Agitadora cultural e influencer digital do Rio de Janeiro, passou a investir em Bitcoins em 2017 com o boom da moeda e viu na Atlas uma oportunidade de investimento. Maria Luíza discorda do pensamento corrente que a Atlas fosse um golpe, ou esquema ponzi igual aos outros casos de polícia.

“Uma pirâmide não age assim nem contrataria uma auditoria renomada para demonstrar sua liquidez, apesar de que houve controvérsias com algumas exchanges, negando ter saldo da Atlas sob custódia.  O que houve foi uma clara corrida aos bancos moderna, estão com medo da falência da Atlas e indo todos ao mesmo tempo.” 

 

Karina Martins

Empreendedora digital e especialista em marketing digital do Rio de Janeiro, também vê exagero nas alegações de que a Atlas era uma pirâmide, apesar de se sentir lesada pelo bloqueio dos seu saldo. Para Karina a questão sobre o robô não ter passado por uma auditoria é algo que se questiona, mas ela concorda que alguns negócios são montados para não serem auditados publicamente, devido à propriedade industrial.

“Sinceramente, vejo no caso da Atlas um mix de muita desinformação, até mesmo por parte da própria Atlas que sempre se posicionou de forma muito discreta quanto à natureza das suas operações. Mas isso pode ser em função do modelo de negócio. Talvez o tal robô não fosse passível de ser auditado, devido às questões de propriedade industrial, mas não acho que fosse golpe. Enquanto a Atlas funcionou e deu dinheiro, ninguém a chamava de pirâmide.”

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