Análise: Como as eleições 2024 podem a moldar o futuro da economia
Pablo Marçal pode ter encarnado Ícaro. O personagem da mitologia grega empolgou-se com suas asas de cera, voou alto demais e o calor do sol derreteu seu equipamento. Marçal talvez tenha se animado demasiadamente com sua estratégia de tocar fogo no parquinho, que vinha se mostrando eficaz. E agora pode até ganhar a eleição, mas não levar. E isso talvez tenha implicações profundas para o futuro próximo – a começar pela economia.
Com Bolsonaro inelegível, Tarcísio de Freitas passou a ser a figura central da direita. Desde o início da corrida pela prefeitura de São Paulo, porém, Pablo Marçal mostrou-se um candidato forte a esse papel – ainda mais populista que Bolsonaro, conquistou uma legião de seguidores que o tratam como Messias. E bem antes do fim das eleições de 2024 despontou como um nome forte para 2026.
Desde 2002, todos os vencedores de eleições presidenciais tinham um pé fincado no populismo: Lula e Dilma, à esquerda; Bolsonaro, à direita. Populismo é algo que anda de mãos dadas com o excesso de gastos públicos. Cada um desses chefes do executivo, à sua maneira, mostrou algum grau de irresponsabilidade nessa seara – uma tradição que trouxe a dívida brasileira ao nada sustentável nível em que estamos agora, próximo de 80% do PIB.
A eventual eleição de um novo populista dificilmente representaria uma mudança de direção. Só que as asas de Marçal podem ter derretido com o caso do laudo falso.
Tudo isso num momento em que a direita mostra força. Em São Paulo, Nunes e Marçal têm metade dos votos, talvez um pouco mais. Fossem uma pessoa só, provavelmente essa quimera venceria no primeiro turno.
Caso Marçal se junte a Bolsonaro no clube dos inelegíveis, Tarcísio fica com o caminho livre. E acumula credenciais para isso. Ele está há quase dois anos no governo do Estado, sem ter acumulado rejeição. Mostrou que sua ideologia a favor de menos Estado e mais iniciativa privada vai além do discurso, ao promover a privatização da Sabesp, a companhia paulista de saneamento.
E sua popularidade mostra que dá para conquistar eleitores fazendo um governo pragmático – uma evidência disso: Nunes e Marçal fizeram questão de dizer no último debate que tinham o apoio de Tarcísio (embora este último não tenha).
Fato é que, faltando apenas dois anos para as eleições presidenciais, Tarcísio se consolida como o maior ponto de convergência do espectro conservador.
Tudo pode mudar até 2026. Talvez surjam outros nomes na direita – e na esquerda, e no centro. O importante é que o pragmatismo, por si só, parece estar ganhando um voto de confiança. E essa linha de pensamento, independentemente de quem a carregue, seria peça-chave para o saneamento das contas públicas – passo essencial para cortar as pressões inflacionárias e permitir que os juros voltem a um patamar racional.
Tudo isso começa com decisões políticas. Marçal já tomou a dele.