Alvo da ação da Polícia Civil do PR se chamava de profeta e dizia ser cofundador da Ethereum Classic

Nas redes sociais, Daniel Kaminski de Souza se autodenominava profeta e dizia ser dizia ser cofundador da Ethereum Classic, evangelizador da tecnologia e líder na comunidade.

De acordo com a Polícia Civil, contudo, ele foi o cérebro por trás de uma pirâmide com bitcoin que arrecadou pelo menos R$ 150 milhões de pessoas por todo Brasil, inclusive entre seus familiares. Na quinta-fera (05), Kaminski foi um dos alvos de uma operação contra a Krypton United, na qual era o CEO. No momento, ele está foragido da Justiça.

Pelo seu perfil na plataforma GitHub, ele seria, na verdade, apenas um voluntário sem colaborações relevantes para o código. Ainda assim, o CEO da Krypton conheceu a tecnologia cedo e há indícios de que tem um relação com bitcoin desde 2013.

Testemunha do hard fork do Ethereum?

O Ethereum Classic é um hard fork [divisão] do Ethereum, criptomoeda lançada em 2015 e que tem o russo-canadense Vitalik Buterin como principal expoente.

Em 2016, um ataque hacker atingiu a rede blockchain do Ethereum. A partir das discordâncias sobre os rumos da rede após o incidente, a comunidade se dividiu, dando origem a duas criptomoedas: Ethereum (ETH) — este apoiado por Buterin — e Ethereum Classic (ETC).

“Muitos de vocês sabem que tenho aumentado meus limites nos últimos meses desde o início do Ethereum Classic, quando tínhamos apenas 4 homens. Agora sinto que a comunidade abraçou a causa de maneira tão apaixonada que minha contribuição é reduzida em milhares de membros ativos”, escreveu o hoje foragido em um post de 2016 na plataforma Steemit.

No texto, Kaminski, se diz apaixonado pela tecnologia blockchain e se intitula como Prophet Daniel [Profeta Daniel] na comunidade e afirma ter contribuído com os debates que levaram ao hard fork do Ethereum.

“Eu estava vendo as notícias fluindo todos os dias sobre isso e acreditava na época que o hard fork do Ethereum era a coisa certa a fazer para recuperar os fundos perdidos dos investidores por um hacker mal. Estudando mais profundamente o assunto, percebi que talvez o hacker não estivesse sendo realmente mau, talvez ele estivesse apenas expondo um problema no sistema implementando seu contrato inteligente”, disse no mesmo post.

Também no LinkedIn, Kaminski diz ser chefe de Blockchain da organização britânica CCEG (Centro de Cidadania, Empresa e Governança) Blockchain UN Lab, instituição com grupos de pesquisa que desenvolve o uso da tecnologia para uso em projetos de desenvolvimento social.

De acordo com o site da instituição britânica, o brasileiro aparece como consultor, sendo ele autor de uma série de textos na plataforma da CCEG.

Relação antiga com bitcoin

Segundo o perfil pessoal no LinkedIn, Kaminski é engenheiro eletrônico de pesquisa e desenvolvimento, com mestrado pela UFPR (Universidade Federal do Paraná) e passagem pela companhia de eletrodomésticos Electrolux, onde atuou como chefe de algoritimos de controle.

Foi enquanto estava na empresa, por volta de 2013, que Kaminski teria tido seus primeiros contatos com o Bitcoin.

Um indício dessa relação antiga é uma reportagem do site Coindesk de junho de 2015, que cita o brasileiro como parte em um processo que moveu na Justiça do Estado do Kentucky (EUA) contra Dennis Kerley.

Na ação, Kerley foi condenado a pagar indenização equivalente a US$ 67.591 a Kaminski referente a um empréstimo recebido em bitcoin via plataforma de empréstimos peer-to-peer BTCJam, em dezembro de 2013.

Foragido da Polícia

Kaminski foi um dos alvos da operação deflagrada pela Polícia Civil nesta quinta-feira em Curitiba, que mirou uma quadrilha acusada de pirâmide financeira com bitcoin que teria captado R$ 1,5 bilhão.

Segundo a investigação, Kaminski avisou os investidores que havia sofrido um golpe na Argentina e não poderia pagar os supostos investimentos em bitcoin.

Quem é e como operava a quadrilha que prometia retorno com bitcoin presa pela Polícia Civil
Daniel Kaminski é um dos alvos da operação da Polícia Civil contra esquema de pirâmide financeira.
Foto: Reprodução

A promessa de retorno era de 4% ao dia – algo impossível de ser obtido no mercado tradicional, mas um típica isca de pirâmides financeiras para atrair associados.

Conforme autorização da Justiça do pedido do Ministério Público para iniciar a operação, a investigação envolveu quebra do sigilo de dados de 10 pessoas. “O prejuízo de 10 investidores foi de R$ 644 mil”, diz o texto. O documento aponta também que cerca de 500 pessoas teriam sido lesadas.

Ainda de acordo com as investigações, os depósitos eram feitos em reais nas contas de três pessoas: Daniel Kaminski de Souza, Julio Kaminski e Camila Aline Kaminski, sendo que os dois últimos foram presos.


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