Alameda do GBB em Curitiba já foi endereço de pirâmide financeira internacional
Com colaboração de Emanuelle Bittencourt / Curitiba – A região Sul do país, para infelicidade de seus habitantes, vem se mostrando solo fértil para a criação de empresas que dão golpes ou atrasam pagamento a seus investidores. Exemplos são a Indeal e a Unick Forex, ambas com sede em Novo Hamburgo (RS).
Outro exemplo recente são as empresas do Grupo Bitcoin Banco, com sede em Curitiba, e que há meses deixaram de pagar seus investidores.
Porém a primeira participante do clube seria hoje uma uma anciã, pois a empresa quebrou em 2016. Trata-se da Script.CC, empresa que oferecia internacionalmente – e no Brasil inclusive – a oportunidade de investimento com altos ganhos que, em tese, seriam obtidos na mineração de criptomoedas.
O diferencial então oferecido pela Script.CC era investir “sempre na mineração da moeda mais rentável”. Ou seja, havia um sistema automático que selecionava qual moeda, fosse Bitcoin ou altcoins, estava mais rentável de minerar num dado momento e, automaticamente o sistema fazia essa mineração para os investidores.
Como dezenas de outros casos de golpes, a empresa foi “atacada por hackers” e parou de funcionar rapidamente, deixando sem seus recursos milhares de clientes no mundo todo, isso em 2016.
“Quarteirão das pirâmides”
É neste ponto que a história da Script.CC se cruza com o Sul do Brasil, pois o domínio usado pela empresa nessa época, o “script.cc”, esteve registrado em um endereço em Curitiba, Paraná. Mais precisamente, na Alameda Dr. Carlos de Carvalho, 416, mesma rua da Negocie Coins (número 431) e do GBB (417).
A Alameda Dr. Carlos de Carvalho fica no centro da capital e é uma rua bastante conhecida, com prédios comerciais, empresas renomadas, restaurantes e sedes de estatais. O lugar é visto como nobre, de grande movimento e com status para as empresas que têm ali seu endereço.
Como fechou em 2016, mesmo que um dia tenha estado lá, a Script.CC não está mais no local. Onde supostamente ficava, existe hoje uma Igreja Adventista do Sétimo Dia. Um dos funcionários mais antigos do lugar, que preferiu manter o nome em sigilo, recorda-se que no endereço não havia empresas com placas de divulgação, embora se tratasse de um prédio alugado para diversos usos. Outras pessoas que entrevistamos não se recordam da existência da empresa no local.
Prédio ostentação
Bem em frente ao endereço onde supostamente ficava a Script.CC, hoje existe um prédio de alto padrão, com segurança reforçada e acesso restrito. O edifício Tiemann Headquarters, um dos mais suntuosos da região, impressiona pelo luxo e proteção. Só de seguranças na porta, são quatro. É ali que fica a sede do GBB e também da Negocie Coins, que se mudou do 431 para lá.
Mas, diferentemente da Script.CC, o Bitcoin Banco está na boca de quem conhece bem a localidade.
“Sempre aparecem pessoas perguntando dessa empresa, muitas falam que rola dinheiro grande, mas tudo apenas por comentários eu nunca vi nada atípico”, afirma uma vizinha da empresa, mas que preferiu manter a identidade em sigilo. “Nunca sabemos com quem lidamos”, explica.
Vale dizer que a reportagem de Livecoins não localizou nenhum indício de ligação do GBB com a Script.CC, só mesmo o fato de estarem na mesma rua. Porém, levando em conta que a Script.CC pode ser considerada a “vovó” das pirâmides sulistas, consideramos importante divulgar a informação.
GBB na mira da polícia
O Grupo Bitcoin Banco, como é de conhecimento da maioria da comunidade cripto, está com milhões em dívidas para com seus investidores e não tem previsão de pagamento. Ou melhor, faz várias previsões e não cumpre nenhuma.
O grupo era o responsável também pela Negocie Coins e pela TemBTC, exchanges que funcionavam conectadas e permitiam ganhos assombrosos por meio da compra em uma e venda na outra, esquema que ficou conhecido como “arbitragem infinita”. Houve casos relatados de traders que teriam “lucrado” 4% ao dia na plataforma.
Entretanto, em maio de 2019, os saques começaram a ficar travados nas exchanges e a empresa anunciou que havia sofrido um golpe por parte de seus usuários, no valor de R$ 50 milhões. Daí para a frente, foi um conjunto de informações desencontradas e promessas de pagamentos que até hoje não se cumpriram, inclusive com a criação de uma nova criptomoeda.
Em decorrência desse quadro, o Bitcoin Banco foi alvo de uma operação policial no mês de agosto. Os mandados de busca a apreensão foram autorizados pela 17° Vara Civil após investidores acusarem a empresa de serem lesados. A ação judicial partiu através de uma investigação iniciada em maio deste ano, quando o próprio Bitcoin Banco alegou ter sofrido o golpe dos R$ 50 milhões.
Em nota, a Assessoria de Comunicação da Polícia Civil do Paraná confirmou que a delegacia NuCiber, especializada em crimes cibernéticos conta com uma investigação em andamento, mas nenhuma informação pode ser repassada até o momento para preservar o sigilo dos procedimentos investigatórios.
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