A mineração de Bitcoin está consumindo o nosso planeta?
As preocupações com o impacto da mineração de prova de trabalho (PoW) do Bitcoin (BTC) no meio ambiente estão crescendo. À medida que o interesse por cripotmoedas aumenta, o consumo de energia também aumenta.
O consumo de energia da rede Bitcoin virou noticia no final de 2017. Os principais meios de comunicação informaram que já era utilizado mais eletricidade na rede do que em toda a Irlanda.
Na época, a rede tinha um consumo estimado acima dos 30 terawatts por hora (TWh). Isso é bem menos do consumo atual de 95,45 TWh, de acordo com o Digiconomist.
O índice explica que o impacto anual do Bitcoin é de 45,34 toneladas métricas (mt) de CO2. Isso é compatível a todo o impacto causado por Hong Kong. As 10,97 toneladas de lixo eletrônico oriundos da moeda são semelhantes ao lixo produzido por Luxemburgo.
No entanto, um estudo de 2020 especula que esses dados podem estar subestimados. Em vez disso, os pesquisadores estimam que o consumo de energia do Bitcoin é responsável por “quase metade do uso atual de eletricidade por datas centers em todo o mundo”.
Na China, os pesquisadores descobriram que a mineração pode até ameaçar as metas de redução de emissão de carbono.
O impacto ambiental da mineração em hardware
Além do consumo de eletricidade, a mineração em hardware contribui para o problema global dos lixos eletrônicos.
A mineração de Bitcoin começou usando GPUs e CPUs simples. Com o aumento da necessidade de energia, os produtores começaram a criar chips exclusivos.
Agora, a grande maioria dos mineradores utiliza Circuitos Integrados de Aplicativos Específicos (ASICs). Eles são criados especificamente para minerar criptomoedas no algorítmico PoW.
O ramo de mineração de criptomoedas é altamente competitivo. Apenas as máquinas mais eficientes conseguem operar com lucro. Os ASICs de mineração estão sendo constantemente aprimorados. Como resultado, cada nova geração de produtos introduzidos no mercado faz as máquinas mais antigas deixarem de ser lucrativas.
O número definido de moedas e blocos é o motivo por trás desta melhoria constante. À medida que mais máquinas eficientes se unem à blockchain, a taxa de hash total da rede também aumenta.
A quantidade de Bitcoin que qualquer minerador obtém depende muito da porção de hashrate gerada. Isso faz com que as máquinas mais antigas gerem menos lucro, consumindo a mesma quantidade de energia.
Como consequência, os mineradores de Bitcoin passam a comprar uma quantidade impressionante de dispositivos de computação. Portanto, no final acaba não sendo possível reaproveitar esses produtos após a perda de suas vantagens competitivas.
Uso de energia renovável na mineração
Conforme destacado, a mineração de criptomoedas consome muita energia porque computadores de mineração precisam de eletricidade para funcionar.
Embora isso pudesse ser um problema para os mineradores, essa indústria cresceu constantemente, com cada vez mais máquinas trabalhando.
Como resultado, se esse sistema funcionasse apenas com eletricidade alimentada por combustíveis fósseis, acabaria por ser prejudicial ao meio ambiente.
No entanto, existe um debate sobre quais são as quantidades, tanto de energia elétrica tradicional como de energia renovável, que são utilizadas durante o processo de mineração.
Um white paper de mineração de 2019 feito pela empresa CoinShares descobriu que 74,1% da mineração de Bitcoin é feita com uso de energia renovável. No entanto, a estimativa do estudo seria até mesmo conservadora.
O consumo de energia mais avançado estaria também cada vez mais nos planos de empresas de mineração. A BitRiver, empresas de mineração de Bitcoin na Rússia e países da Comunidade dos Estados Independentes (CEI), confirma que só utiliza energia renovável.
“Usamos apenas energia renovável em toda a nossa operação, que atualmente utiliza mais de 70 MW de energia para minerar criptoativos. Como a demanda de clientes novos e existentes continua a aumentar, estamos expandindo nossas instalações para utilizar mais da capacidade total de 100 MW que nosso site possui ”, disse o COO da BitRiver, Dmitrii Ushakov ao BeinCrypto.
Pequenas soluções para grandes problemas
Além do uso da energia renovável, algumas empresas estão tentando reduzir o custo ambiental de suas operações.
Ushakov explica que sua empresa tenta ajudar os clientes a redistribuir o seu hardware, em vez de apenas jogá-los fora. Eles os ajudam a revender os itens. Frequentemente, os interessados são mineradores que possuem acesso a energia mais barata, de modo que ainda podem ter lucro com esses equipamentos.
“No momento, há uma grande demanda de equipamentos das fazendas de mineração que obtêm eletricidade a uma taxa muito baixa. Dependendo do custo da eletricidade, que para algumas áreas pode ser quase gratuito, operar máquinas de mineração antigas é vantajoso em termos de custo. E depois disso, o equipamento pode ser reciclado como qualquer outra parte do computador. Os ventiladores são reutilizáveis e a caixa pode ser reutilizada ”, explica um representante da empresa de hardware e software de blockchain Bitmain.
No entanto, essa postura de revenda e reciclagem apenas adia a criação de uma grande quantidade de lixo eletrônico, em vez de fornecer uma solução real para o problema.
Redistribuindo subprodutos
Outra forma que os mineradores estão buscando para compensar o consumo de energia é usando subprodutos inúteis. Parcerias com outras indústrias surgem, portanto, para usar esses recursos na hora de executar operações de mineração.
A mineração de Bitcoin produz muito calor. Segundo o representante da Bitmain, a empresa aproveita esse calor para manter a normalidade dos cômodos de seus prédios em regiões mais frias.
Em outro exemplo, outras mineradoras estão fazendo parcerias com empresas de energia para utilizar subprodutos para as suas operações. Em 2020, a Crusoe Energy Solutions firmou um acordo com a empresa de energia Equinor para usar o excesso de gás natural de seu campo de petróleo na Dakota do Norte para minerar Bitcoin.
Isso gera um incentivo para a Equinor não queimar o gás de forma irresponsável, que é prejudicial ao meio ambiente. Ao invés disso, ele é canalizado para uma produção útil.
As energias renováveis são suficientes?
Embora a resposta para o problema de energia do Bitcoin pareça ser a energia renovável, alguns acreditam que esse alternativa pode não ser o suficiente.
Um especialista em blockchain da PwC, Alex de Vries, escreve em seu relatório de 2019 sobre a sustentabilidade do Bitcoin que mesmo as operações de mineração aparentemente sustentáveis ainda contribuem em danos ambientais.
Ele explica que muitas vezes os recursos renováveis, como a energia hidrelétrica, são sazonais. Portanto, não são capazes de produzir energia exigida pelos mineradores durante todo o ano.
“Ao contrário da demanda de energia das máquinas de mineração de Bitcoin, que é consistente durante todo o ano, a produção de energia hidrelétrica está sujeita à sazonalidade. Como resultado, a variabilidade sazonal da energia hidrelétrica já é superior a 30% e deve aumentar ainda mais por causa das mudanças climáticas ”, diz ele no relatório.
Como resultado, a necessidade de mitigar esses problemas e continuar a mineração leva a uma dependência contínua do carvão não renovável e da energia nuclear.
Vale a pena minerar? É tudo uma questão de equilíbrio
É difícil determinar a extensão dos danos que a mineração de criptomoedas causa no meio ambiente. No entanto, isso não significa que não deve ser uma preocupação de toda essa indústria.
Muitos consideram o Bitcoin a chave para um futuro que garanta os direitos à liberdade de expressão, liberdade financeira e uso da tecnologia democratizada.
Embora seja uma contribuição para o aumento do consumo, muitas vezes o Bitcoin é apontado como um problema por setores que consomem a mesma quantidade de energia, ou até mais.
Gerry McGovern fala sobre as massas de dados que atualmente consomem energia devido ao armazenamento desnecessário, em seu livro World Wide Waste, lançado em 2020.
O autor deu o exemplo de quantas árvores precisaríamos plantar para compensar, por exemplo, as transmissões de dados. De acordo com McGovern, as estatísticas mostram que seriam necessários 1,6 bilhão de árvores para compensar a poluição causada por e-mails de spam.
Além disso, 16 milhões de árvores seriam necessárias para compensar a poluição causada por cerca de 1,9 trilhão de pesquisas anuais no Google.
O impacto ambiental não é apenas uma questão do Bitcoin, mas sim uma questão tecnológica. A forma como se constrói o futuro tecnológico é insustentável, e todas as indústrias envolvidas nesse setor precisam começar a lidar com isso.
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