Por que você não deve acreditar em tudo o que seu gerente de banco diz

Segundo o Banco Central, existem 21.874 agências bancárias físicas espalhadas em todo Brasil. Cada uma possui pelo menos 1 gerente de conta bancária para o segmento de varejo e alta renda. No entanto, algumas agências são mais sofisticadas e possuem mais gerentes para atender diferentes segmentos de renda.

Fonte: Nexo e Banco Central do Brasil

Mas o que faz um gerente de banco? Um gerente é responsável por cuidar da conta bancária de um cliente. Ele lida com dados sigilosos, tira dúvidas em relação a extratos, realiza operações de transferência, vende e explica sobre produtos financeiros, oferece seguros e aprova empréstimos.

Aliás, a parte de venda é muito importante para o banco. Cada gerente tem uma meta trimestral ou semestral para bater em vendas de produtos financeiros, tais como: títulos de capitalização, seguros, títulos de renda fixa e empréstimos. Ele ganha para comissão nessas vendas, e é aí que começa o problema: o tal do conflito de interesses.

Um resumo disso pode ser visto em uma das cenas mais clássicas do filme “O Lobo de Wall Street“. Veja abaixo:

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O que é bom para o banco é bom para você?

Não é um problema ter uma pessoa cuidando do seu dinheiro. Em alguns casos, algumas pessoas preferem que tenha alguém administrando seu patrimônio.

Embora cada um deva cuidar do seu dinheiro, é preciso lembrar que o conhecimento sobre finanças básicas e investimentos ainda é uma realidade distante para a maioria dos brasileiros.

Aliás, em alguns casos, é até melhor que alguém cuide do dinheiro de outra pessoa. Quem cuida do dinheiro dos outros é pago para isso, é sua função. Portanto, possuem uma preparação focada nisso, habilidades e experiência no assunto.

Mas, quem paga este profissional? Neste caso, o banco, que como empresa, ganha dinheiro na venda de produtos para seus clientes. E quem vende esses produtos? A resposta é: a pessoa que deveria cuidar do seu dinheiro.

Desta forma, voltamos ao conflito de interesses. Será que o que é bom para o banco será necessariamente bom para você? A resposta é bem simples: raramente. Bancos lucram captando dinheiro para oferecer empréstimos bem acima da taxa de juros básica da economia.

Para aumentar a escala da operação é preciso ter mais recursos sob custódia. Mas como captar isso? Muito simples: oferecer serviços financeiros que pareçam bons aos olhos do cliente leigo. Na maioria das vezes, as aplicações não vão render nada. No entanto, uma pessoa com pouco conhecimento financeiro será atraída.

O gerente que deveria cuidar do seu dinheiro acaba virando um vendedor de títulos de capitalização, empréstimos desnecessários e outros produtos financeiros pouco interessantes para o cliente.

E se o cliente não gostar? Não tem problema. O patrimônio do gerente não será penalizado. Aliás, ele provavelmente já terá sido promovido se fizer seu trabalho muito bem. 

Falta de skin in the game, o mal do século

Aliás, a impunidade é algo que vem complicando a humanidade aos poucos. Falta skin in the game ou “dar a cara a tapa”, como diria Nassim Taleb. A falta de skin in the game, quando generalizada, pode resultar em graves problemas socioeconômicos. Aliás, ter pessoas não se responsabilizando pelo que fazem acarretou péssimas decisões.

Isso pode ser visto claramente no filme The Big Short. Aliás, recomendo muito assistir se você estiver com o fim de semana livre. Mark Baum é um gestor de fundo que encontra um gestor de CDOs (um dos derivativos tóxicos antes da Crise de 2008.

O gestor do CDO pouco se importa com riscos ou possíveis consequências com os títulos que emite. Afinal, seu único objetivo é garantir elevadíssimos bônus e viagens de helicóptero. Se você entende inglês, veja o vídeo abaixo:

Um político que administra mal o dinheiro dos impostos pouco se importará. No máximo, será impedido de ficar no poder (geralmente por pouco tempo) e, se muito, responderá por improbidade administrativa, o que é uma punição proporcionalmente pequena frente aos danos que ele causou com suas atitudes temerárias.

Um executivo, ou banqueiro que recebe altíssimos salários e bônus realmente vai se importar com as consequências de suas decisões, caso não tenham nada a perder? Foi nesse cenário em que chegamos na crise de 2008. Muita alavancagem financeira e pouca gente com a pele em jogo.

O mesmo conceito também pode ser aplicado para gerente de banco ou “gurus financeiros”: eles pouco vão se importar se o cliente perder dinheiro. A responsabilidade não é deles, afinal, apenas venderam o produto.

Não serão penalizados com o próprio patrimônio e é bem provável que sejam promovidos se eles conseguirem vender mais.

Outra pergunta: você investiria em algum fundo no qual o gestor não tem cotas do próprio? Ou, você compraria um produto que nem o próprio vendedor está usando? Resumidamente, você seguiria conselhos de quem não faz? É preciso se fazer essa pergunta antes de colocar dinheiro em qualquer coisa.

Fugindo do gerente de banco

Todo mundo vai querer te vender alguma coisa, e essa será uma constante da humanidade. Nem todo mundo que te oferecer um produto necessariamente será um aproveitador. Em alguns casos, a pessoa está oferecendo porque conseguiu notar uma demanda real e decidiu atendê-la.

Antes de confiar, verifique. Não há dúvidas que há excelentes gerentes de banco por aí que oferecem os excelentes produtos para os seus clientes. No entanto, estes estão se tornando cada vez mais raros nos bancos, porque estão migrando para o mercado de AAI (Assessor Autônomo de Investimentos), trabalhando para corretoras como a XP.

Alguns gestores de fundos realmente estão com a pele em jogo. Tem gente que constrói e administra fundos pensando neles como algo para a família. No entanto, é sempre preciso verificar. 

Se o gerente te oferecer “um ótimo investimento”, peça explicação. Se não tiver certeza de que entendeu, não aplique. Por via das dúvidas, é melhor não aplicar em nenhum título de banco. Se quiser investir, procure um fundo de investimentos ou uma corretora. 

O mundo precisa que mais pessoas coloquem a pele em jogo. Gerente de banco que só pensa em bater meta, provavelmente está fora desse jogo.

*Texto escrito por Lucas Bassotto e publicado originalmente pelo site Investificar.

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