Libra: amigo ou inimigo? Piora o cenário após as audiências do Congresso americano
O Facebook está na berlinda esta semana, já que o Congresso americano fez perguntas brutais sobre a “criptomoeda” da empresa. Uso aspas, porque no sentido mais puro, uma criptomoeda é descentralizada, sem necessidade de confiança e sem concessão de permissões.
A Libra não é nada disso. Em vez disso, a Libra provavelmente se tornará uma moeda privada que permite a ‘virada de chave’ que dá início a um Estado totalitário com vigilância abrangente.
Enquanto a Associação Libra é supostamente uma entidade independente e descentralizada que governa o projeto, o sistema de consenso da Libra é tão corporativo que é ofensivo chamá-la de uma verdadeira criptomoeda. É efetivamente uma entidade meta-corporativa, como Visa, Mastercard, PayPal, Uber e Spotify no comando.
Facebook e uma fundamental falta de confiança
Em relação à ser “sem necessidade de confiança”, por que você não confiaria no Facebook? A empresa foi recentemente multada em US$ 5 bilhões por violar a privacidade dos consumidores. Agora você vai confiar neles com seus dados pessoais E TAMBÉM financeiros?
O termo “sem concessão de permissões” no contexto de blockchains significa que nenhuma entidade centralizada pode determinar se você pode ou não participar da rede. Os outros 27 membros fundadores da Libra pagaram um bom dinheiro para serem os nós (nodes) validadores da rede – um investimento mínimo inicial de US$ 10 milhões em tokens de investimento (similares a ações de empresas) emitidos pela Associação Libra – e tiveram que atender a critérios muito específicos estabelecidos pelo Facebook. Essas entidades formam um grupo controlador de elite e centralizado que controlará a permissão na rede da Libra. Este é apenas outro comitê de planejamento central.
Agora, o Facebook pode bani-lo da sua plataforma E TAMBÉM da sua conta bancária, que é uma ferramenta super poderosa para seja lá quem for que a esteja controlando – seja uma gigante da tecnologia ou o governo, ou talvez ambos. Considerando o padrão do Facebook de exclusão de contas de usuários de forma seletiva com base em suas convicções políticas ou semelhantes, integrar um sistema de pagamento com a plataforma de mídia social existente do Facebook é uma proposta extremamente perigosa.
Piora o cenário: gigantes da tecnologia e governo em conluio
O corporativismo, o controle de um Estado ou organização por grandes grupos de interesse, soa como uma descrição precisa da Libra e um passo evolutivo em direção ao fascismo. A Libra defende a missão muito altruísta de capacitar bilhões de pessoas, especialmente os sem-banco, com uma moeda global e uma infraestrutura financeira simples. Eu mantenho uma quantidade saudável de ceticismo.
A verdadeira questão é: quem está no banco do motorista – gigantes da tecnologia ou o governo? Nesse cenário, vejo a resposta como ambos. Embora isso pareça uma batalha entre legisladores e grandes empresas de tecnologia, a realidade é que eles poderiam acabar colaborando para criar um concorrente para o Bitcoin que é regulamentado pelo governo. Não acho que seja uma coincidência que as agências de notícias estejam perguntando se o Bitcoin foi criado por um criminoso ao mesmo tempo em que abre a discussão sobre a Libra.
Libra poderia servir ao Estado de vigilância
O governo dos EUA provavelmente veria a Libra como uma oportunidade para vigiar o público com mais profundidade, semelhante ao modo como o WeChat opera na China. A Libra afirma que manterá os dados transacionais separados dos dados sociais, mas o histórico do Facebook e a capacidade de violar a privacidade dos usuários tornam essa afirmação implausível.
Este sistema estabelece uma inversão total da essência da blockchain: em vez de trazer um novo tipo de sistema bancário que devolve o poder ao povo, a Libra estabelece o Estado de vigilância final.
O sistema de crédito social na China, onde cada ação que você toma é monitorada pelo governo e colocada em uma pontuação de crédito social é exatamente onde a Libra está indo. A Libra seria mais um passo no caminho para um Estado totalitário, em que o governo vê cada movimento seu e monitora todo o seu dinheiro.
É fácil para o governo americano agir como um partido neutro ou mesmo antagônico questionando a Libra nas audiências do Senado.
Por trás desse véu de desconfiança parlamentar sobre os gigantes da tecnologia estão grupos de interesse poderosos e com capital de risco suficiente para se beneficiarem de um relacionamento simbiótico, através do qual eles adquirem e monetizam dados que permitem ao governo acesso sobre os passos (lifelog) de cada cidadão.
Além disso, a possibilidade de monitoramento baseado em código, nos bastidores, por meio de câmeras e microfones embutidos no bolso de cada cidadão transforma as escutas telefônicas e os escândalos de telecomunicações do passado em algo tímido se postos em comparação. Em última análise, quando a tecnologia for amplamente adotada, o governo espera colher os benefícios.
Seriam essa tentativa de destruição pública do Bitcoin somada a indignação do Congresso americano um disfarce para uma conspiração público-privada estilo Cavalo de Tróia para instalar uma versão renovada do lifelog do Departamento de Defesa dos EUA, um esforço cancelado em 2004 (o mesmo ano em que o Facebook foi fundado) para construir um banco de dados para rastreamento de toda a existência de uma pessoa? Só o tempo irá dizer.
Sobre o autor: Jake Yocom-Piatt é co-fundador e líder do projeto Decred, uma criptomoeda governada pela comunidade.
Fonte: Stakey.Club
Autor: Jake Yocom-Piatt, Líder da Decred
Tradução: Marcelo Martins – Cybersecurity specialist. Hacking, teaching, breaking stuff.
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