3 tendências que podem moldar o futuro do mercado de criptomoedas

Conheça as transformações que podem impactar a indústria de criptomoedas e apontar os rumos do mercado no próximo ciclo de alta.

Junho chega ao fim confirmando que o segundo trimestre de 2022 será lembrado como o pior da história do mercado de criptomoedas. No agregado, as perdas em capitalização total de mercado ficarão em torno de 60%, de acordo com dados do CoinGecko.

Como se já não fosse evidente que estamos em um inverno cripto rigoroso, este tem tudo para ser um dos piores da história devido a uma série de indicadores: o cenário macroeconômico global de inflação em alta e a política de aumentos sucessivos das taxas de juros do Banco Central dos EUA (Fed) parecem apontar inevitavelmente para um período de recessão.

Enquanto a indústria de criptomoedas assiste a uma onda de insolvência abalando empresas sólidas em aparência (Celsius, BlockFi, Three Arrows Capital, Voyager), seguida por liquidações em série e capitulações que jamais chegam ao fundo, aceleradas pelo colapso do Terra Classic (LUNC).

Ciclos de baixa são desestimulantes para os investidores. Por outro lado, para os desenvolvedores são tempos de trabalho duro. Exatamente agora estão sendo criadas as aplicações inovadoras que serão capazes de atrair novamente o capital ao mercado, e novos investidores.

Os protocolos DeFi (finanças descentralizadas) do verão de 2020, os NFTs (tokens não fungíveis) e os jogos play-to-earn da temporada de 2021 foram desenvolvidos nos anos pouco excitantes de 2018 e 2019. Agora, é provável que se esteja apenas no início de uma longa jornada.

Mesmo assim – ou exatamente por isso – é interessante ficar atento a algumas tendências que tem sido apontadas por especialistas do setor como capazes de apontar os rumos da indústria, e consequentemente do mercado, em direção ao próximo ciclo de alta.

Blockchains modulares

Existe uma teoria de que as redes blockchain que as pessoas utilizarão no futuro, quando a tecnologia gozar de amplos níveis de adoção, será completamente diferente das redes blockchain e das plataformas de contratos inteligentes utilizadas hoje. Os defensores desta tese acreditam que o futuro pertence às blockchains modulares.

Hoje, as principais redes blockchains em operação baseiam-se no que é entendido como um design monolítico. O Bitcoin (BTC) é monolítico, assim como a Ethereum (ETH), a Solana (SOL) e a Avalanche (AVAX). Mesmo aquelas redes que almejam a modularidade, como a Cosmos (ATOM), não são puramente modulares. Adotam uma abordagem híbrida.

Ao finalizar a transição para o algoritmo de Prova-de-Participação (PoS), o Ethereum ainda assim não será totalmente modular. Daí a importância das soluções de camada 2, como o próprio criador da Ethereum, Vitalik Buterin faz questão de reafirmar O mesmo vale para as sub-redes da Avalanche, que são essencialmente cadeias monolíticas operando sobre outra cadeia monolítica.

Em um design monolítico, todos os tipos de transações são executados em uma camada. Por exemplo, a rede principal da Ethereum é onde as transações, os dados, as liquidações e o consenso estão sendo executados. Por isso, a rede enfrenta problemas de escalabilidade e a atividade fica seriamente comprometida quando há uma grande quantidade de transações sendo realizadas. Há um aumento nas taxas de gás, a rede fica lenta e muitas transações não são concluídas. Como todos sabem, esse segue sendo um entrave para que haja adoção em massa.

Uma rede modular de contratos inteligentes consiste em diferentes cadeias, sendo que cada uma delas executa uma tarefa específica. As camadas são separadas em:

Camada de dados, onde a rede armazena e trata todos os dados relacionados às transações e garante que os dados estejam sempre atualizados e acessíveis aos usuários.

– Camada de execução. Onde as transações são recebidas e executadas.

Camada de consenso, onde as transações são validadas, garantindo a segurança da rede.

Soluções modulares talvez sejam a resposta para o clássico trilema da tecnologia blockchain. Ao delegar tarefas específicas a cadeias específicas, uma rede pode alcançar escalabilidade, mantendo a segurança, sem comprometer a descentralização.

No entanto, o futuro modular ainda é algo distante até que surja um ecossistema verdadeiramente funcional.

Um projeto ao qual os investidores devem ficar de olho é o da Celestia, que se apresenta como a primeira rede blockchain totalmente modular.

Soluções de infraestrutura

Soluções de infraestrutura garantem a conexão e o funcionamento de redes e aplicativos descentralizados (DApps) e podem ser de naturezas diversas. Em um futuro modular, a infraestrutura tende a assumir a forma de camadas adicionais às redes.

Os projetos que se encaixam nesta categoria vão desde oráculos, como Chainlink (LINK), passando por de soluções de armazenamento em nuvem descentralizadas, como Arweave (AR) e Filecoin (FILE), pontes multi-chain, kits de desenvolvedor, automação de contratos inteligentes, entre outros.

Embora alguns protocolos focados em soluções de infraestrutura tenham tido destaque durante o ciclo de alta de 2021, trata-se de um setor com grande potencial de crescimento. Por enquanto, a Web3 ainda depende muito da infraestrutura fornecida por incumbentes da Web 2.0, como a Amazon, por exemplo.

Por isso, este é um dos setores que vem ganhando bastante atenção dos fundos de capital de risco dedicados à indústria. Há uma necessidade urgente de soluções nativas da Web3 para viabilizar uma série de produtos e serviços que utilizem os incentivos econômicos compartilhados para garantir que a descentralização não seja comprometida.

No entanto, o setor de infraestrutura não é tão estimulante para os investidores do varejo quanto o de games e metaverso, ou mesmo o de DeFi, pois é necessário algum conhecimento técnico para que se possam fazer as melhores escolhas de investimento.

Uma boa estratégia para identificar oportunidades no setor de infraestrutura é pesquisar quais são os projetos que estão atraindo maior atenção e investimentos dos fundos de capitais de risco. Em outras palavras, siga a trilha do “dinheiro inteligente”.

Foco nos aplicativos

Em um futuro multi-chain e modular, a tendência é que as redes blockchains tornem-se parte da infraestrutura básica da indústria e o foco principal recaia sobre os DApps e suas utilidades. Embora isso tenha começado a mudar no último ciclo de alta, as redes de contratos inteligentes concentram muito mais capital do que os DApps.

Portanto investir em tokens de redes de camada 1, como Ethereum, Solana e Avalanche, em geral era mais lucrativo do que fazer alocações em tokens de governança de aplicativos descentralizados, como os da exchange descentralizada Uniswap (UNI) ou dos protocolos de empréstimos Aave e Compound (COMP). Até agora, o espaço cripto ainda é centrado nas redes em detrimento dos DApps.

Há exatamente um mês, um respeitado pesquisador e investidor do mercado de criptomoedas, Hasu, provocou um debate no Twitter ao sugerir que esta equação tende a se inverter em um futuro não tão distante. Como exemplo, a postagem cita o exemplo da Aave.

Originalmente baseado na Ethereum, hoje o protocolo de empréstimos expandiu-se para outras redes, incluindo Avalanche, Fantom (FTM), Polygon (MATIC), entre outras.

Em algum momento nos próximos 1 a 2 anos, haverá uma mudança da “tese de protocolos gordos” para a “tese de aplicativos gordos”. O espaço está super investido em imitadores de camada 1 

— Hasu (is hiring! jobs.flashbots.net) (@hasufl)

Em algumas respostas à postagem, integrantes da comunidade cripto defenderam que para ampliar a adoção das criptomoedas de forma significativa, é necessária a criação de uma interface em que os usuários possam acessar um DApp sem se preocupar em saber a qual rede ele está conectado.

O próprio aplicativo descentralizado direcionaria os usuários para a rede mais adequada para as suas necessidades, com base em condições específicas (melhor rendimento, menos congestionado, melhor taxa).

Um aplicativo ‘gordo’ seria naturalmente multichain. Se for um DApp DeFi, sua liquidez deve ser acessível a partir de qualquer rede. Da mesma forma, o protocolo estaria habilitado para gerar receitas a partir da interação com diversos produtos e soluções da Web3, tornando-se as pedras fundamentais da indústria.

O caso da Aave é um bom exemplo desta tendência. Seus desenvolvedores o estão implementando em diversas redes, além de promoverem inovações constantes em seus produtos, além de gerarem receitas de forma consistente em função de sua utilidade para os usuários.

A Uniswap é outro protocolo DeFi que está seguindo um caminho semelhante, a ponto de recentemente ter superado a Ethereum em geração de receitas diárias, acompanhada por uma valorização significativa do UNI.

Se a inversão sugerida por Hasu realmente acontecer, a relação de retorno sobre o investimento (ROI) em tokens de plataformas de contratos inteligentes e em tokens de DApps também pode mudar em favor destes últimos. Isso pode demorar um pouco para acontecer. Mas, como tudo no espaço cripto, poderá vir a ser um fenômeno mais rápido do que se imagina hoje.

Conclusão

Em momentos de incerteza como o atual, torna-se difícil visualizar claros cenários futuros. Diversas narrativas estão em jogo e provavelmente algumas soluções tecnológicas ainda estão por ser inventadas. Como uma indústria nascente, ainda há um longo caminho a percorrer. A única coisa que parece certa, ou ao menos tem sido assim desde que Satoshi Nakamoto inventou o Bitcoin, inovações disruptivas e novas oportunidades de investimento com certeza hão de surgir para aqueles que se mantiverem atentos aos movimentos do mercado.

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