3 tokens DeFi de projetos alternativos de stablecoins subiram até 41% em uma semana

O token de governança da MakerDAO (MKR) obteve a maior valorização em sete dias depois que sua stablecoin descentralizada, o DAI, manteve a paridade com o dólar durante os eventos que derrubaram o mercado na esteira da queda do UST.

A queda do ecossistema Terra (LUNA) que se desenrolou ao longo da semana passada abalou em cheio o setor de finanças descentralizadas (DeFi). Em menos de uma semana, a blockchain da Terra assistiu a pulverização de US$ 40 bilhões das capitalizações de mercado somadas do LUNA e da stablecoin algorítmica TerraUSD (UST).

A rede de contratos inteligentes que até então era a segunda maior do mercado em termos de valor total bloqueado (TVL) em protocolos DeFi caiu para a 25ª posição no ranking em apenas dez dias.

Pouco antes do início dos eventos que desencadearam o crash da Terra, em 7 de maio, o valor total bloqueado na rede era de US$ 31,9 bilhões. Na tarde desta terça-feira, 17, é de menos de US$ 223 milhões. As perdas ultrapassam impressionantes 98%. Os números são da plataforma de monitoramento de dados DeFi Llama.

Trata-se da queda mais espetacular de um ecossistema robusto na aparência, mas frágil em fundamentos técnicos e econômicos. Evidentemente, um colapso de tamanha magnitude não ficou restrito exclusivamente à Terra, mas teve impactos em todo o mercado de criptomoedas – e em especial no setor de finanças descentralizadas.

Na terça-feira, 10, a queda da Terra já estava consumada, mas a Luna Foundation Guard (LFG), organização sem fins lucrativos responsável pela rede, ainda utilizava todas as armas disponíveis para tentar restaurar a paridade do UST com o dólar. E o LUNA ainda não tinha chegado a zero. Portanto, somente agora é possível contabilizar as perdas do desaparecimento da Terra para o ecossistema DeFi como um todo.

Em 10 de maio, a capitalização total de mercado dos tokens vinculados a protocolos de finanças descentralizadas era de US$ 71 bilhões. Nesta terça-feira, 17, está reduzida a US$ 53,7 bilhões – uma redução acima de 24%, de acordo com dados do CoinGecko.

Enquanto isso, o valor total bloqueado em protocolos DeFi reduziu-se de US$ 200,7 bilhões, em 10 de maio, para US$ 145,2 bilhões, em 17 de maio – uma queda de 27,4%, de acordo com dados do DeFi Llama.

Todas as redes acumularam perdas de no mínimo dois dígitos, exceto pela Tron (TRX), que recuou apenas 1,8%, e curiosamente tem como um de seus maiores atrativos em finanças descentralizadas uma stablecoin algorítmica criada exatamente sob os mesmos moldes do UST – grande responsável pela falência da Terra.

Nos piores momentos da crise do UST, o USDD da Tron chegou a cair 2%, sendo negociado por US$ 0,98, de acordo com dados do CoinGecko, mas vem conseguindo manter a paridade com o dólar desde então, de acordo com dados do CoinGecko.

Depois da Terra, a Fantom (FTM) liderou as perdas, registrando uma redução do TVL de 49,5%, seguido por Avalanche (AVAX), com 39,3%, Ethereum (ETH), com 22,1%, Solana (SOL), com 13,9% e BNB Chain (BSC), com 12,6%. Apesar da fuga de capital, o líder Ethereum voltou a ampliar sua dominância sobre o setor e agora responde por 65,4% do valor total bloqueado em protocolos DeFi.

No acumulado da semana, o LUNA desvalorizou inacreditáveis 100%, tornando-se um token desprovido de qualquer valor, apesar de alguns traders terem realizado negociações especulativas em busca de ganhos exponenciais de curto prazo, quase sempre infrutíferos. 

O FTM também seguiu acumulando perdas contínuas e caiu 35,7% esta semana. Em seguida, o AVAX acumulou perdas de 20%, o SOL, de 12,3% e o ETH, de 8,5%.

O melhor desempenho semanal entre os tokens do setor DeFi coube à MakerDAO (MKR). O token de governança do protocolo responsável pelo DAI beneficiou-se da estabilidade de sua stablecoin descentralizada, a qual atravessou a semana turbulenta sem ter a sua paridade com o dólar ameaçada sequer por um instante. Liquity (LQTY) e OlympusDAO (OHM) foram os outros destaques dos últimos sete dias.

MakerDAO (MKR)

O MKR é o token de governança da MakerDAO. Ele permite aos seus detentores que participem das decisões relativas ao protocolo e capturem valor a partir do desenvolvimento do ecossistema como um todo.

A MakerDao voltou aos holofotes depois que o colapso da stablecoin algorítmica TerraUSD (UST) fez com que os investidores buscassem ativos atrelados ao dólar verdadeiramente “estáveis”. No caso, o DAI.

O DAI foi criado pela MakerDAO em dezembro de 2017, no auge do penúltimo ciclo de alta do mercado, o que faz dela a mais antiga stablecoin descentralizada em circulação nos dias de hoje.

O DAI é uma stablecoin sobrecolateralizada cuja emissão se baseia no seguinte mecanismo: um usuário deve depositar Ethereum – ou outros tokens ERC-20 – em um cofre (vault), que é um contrato inteligente onde as garantias são mantidas e há o controle do valor em dólares do ETH depositado. A partir daí, o usuário pode emitir DAI até um certo nível em função das garantias depositadas.

No entanto, a quantia depositada em ETH precisa ser superior a 100% do DAI emitido. Dependendo do cofre em que a garantia for depositada, será necessário entre US$ 1,50 e US$ 2,00 em ETH para obter 1 DAI, que, em tese, equivale a US$ 1. A sobrecolateralização, ou seja, o ETH excedente em relação ao valor de US$ 1, serve para garantir a manutenção da paridade do DAI com o dólar.

Tratando-se de uma stablecoin, a credibilidade do DAI no mercado depende da manutenção da paridade com o dólar. Os mecanismos primários utilizados para garantir a estabilidade do token são: o grau de colateralização do DAI, a taxa de estabilidade que os mantenedores dos cofres pagam aos depositários, e a taxa de poupança do protocolo. Todos esses parâmetros são controlados pelos detentores do MKR através de votações de governança.

Diversos recursos tornam o DAI atrativo para os usuários. O primeiro é a própria estabilidade. O DAI já foi posto à prova em diversas ocasiões desde o seu lançamento e o intervalo máximo em que ele variou fica entre US$ 0,9648 e US$ 1,0930. Ao longo dos últimos sete dias, por exemplo, o DAI variou entre US$ 0,99 e US$ 1,02, de acordo com dados do CoinMarketCap.

Logicamente, os usuários não precisam emiti-lo utilizando seus ativos como colateral. Podem adquiri-los diretamente através de exchanges sem compreender seu mecanismo de emissão e de manutenção da sua estabilidade.

Por fim, investidores com conhecimentos de finanças descentralizadas podem utilizá-lo para gerar rendimentos através de protocolos DeFi.

Outro fator que contribuiu para a recente alta do MKR foi a crescente utilização do DAI em operações financeiras vinculadas à economia real. 

Em 9 de maio, quando a Terra entrava em sua espiral da morte, um dos cofres da MakerDAO foi usado para financiar o transporte de carne de produtores australianos para Hong Kong.

A transação foi executada em parceria com a Centrifuge, um protocolo baseado nas redes Polkadot (DOT) e Ethereum que permite aos usuários financiar iniciativas no mundo real utilizando DAI.

Por fim, a adição do stETH, Ether mantido em staking, como garantia para emissão de DAI também impulsionou o valor de mercado do MKR.

Com tais avanços em uma semana de extrema tensão para os mercados, o MKR valorizou 41,7% nos últimos sete dias, saltando de US$ 1.210 em 10 de maio para US$ 1.515 nesta terça-feira, de acordo com dados do CoinGecko. Com uma capitalização de mercado de US$ 1,3 bilhão, o MKR ocupa a 51ª posição no ranking geral de criptomoedas atualmente.

Desempenho semanal do MKR. Fonte: CoinGecko

Liquity (LQTY)

O Liquity é um protocolo de empréstimos descentralizado que permite aos seus usuários obter empréstimos sem juros utilizando Ether como garantia. Os empréstimos são pagos em LUSD (outra stablecoin atrelada ao dólar) e precisam manter uma taxa de colateralização mínima de 110%.

O mecanismo de manutenção da paridade com o dólar do LUSD combina recursos do DAI e do UST. Além dos ativos empenhados como colateral, os empréstimos são garantidos por um Pool de Estabilidade baseado no LUSD e por mutuários que atuam coletivamente como garantidores de último recurso.

Além disso, o LUSD é resgatável pelos ativos colaterais subjacentes a qualquer momento, sem período de carência. Por exemplo, é possível trocar LUSD por ETH pelo valor nominal, como se 1 LUSD valesse exatamente US$$ 1. Ou seja, por 10 LUSD o usuário recebe exatamente US$ 10 em ETH em troca.

O objetivo fundamental do Liquity é oferecer liquidez como um protocolo não custodial, imutável e sem governança. Portanto, trata-se de um protocolo de empréstimos verdadeiramente descentralizado, segundo seus desenvolvedores.

Em última instância, a alta do Liquity nos últimos sete dias também está atrelada ao colapso da Terra. Na medida em que o LUSD também foi capaz de manter a estabilidade diante da turbulência do mercado, o LQTY se valorizou.

Além disso, nessa terça-feira, 17, o Mover, um cartão de débito vinculado a criptomoedas para utilização no metaverso, incorporou o LUSD como meio de pagamento.

Hoje, habilitamos o $LUSD do @LiquityProtocol. Gaste sua stablecoin descentralizada favorita online ou offline facilmente através do cartão.

— Mover (@viaMover)

Com os últimos desdobramentos, o LQTY valorizou 34% nos últimos sete dias. Em 10 de maio, o token estava cotado a US$ 1,31, e nesta terça-feira,17, está trocando de mãos a US$ 1,69, de acordo com dados do CoinGecko. A capitalização de mercado do LQTY é de US$ 121,4 milhões e ele ocupa a 259ª posição no ranking de criptomoedas.

Desempenho semanal do LQTY. Fonte: CoinGecko

OlympusDAO (OHM)

Principal expoente do que ficou conhecido como DeFi 2.0, o OlympusDAO teve uma derrocada semelhante à da Terra em termos de desvalorização e encolhimento de sua capitalização de mercado desde que registrou a máxima histórica de US$ 3.209 em 16 de novembro.

Apesar dos ganhos de 10% acumulados nos últimos sete dias, o OHM atualmente está sendo negociado por US$ 16,73. Ou seja: mais de 99% abaixo do seu recorde histórico de preço.

Desempenho semanal do OHM. Fonte: CoinGecko

De qualquer forma, a alta do OlympusDAO em uma semana marcada pelo colapso da stablecoin algorítmica da Terra sugere que o mercado pode estar novamente se voltando a modelos alternativos de “moedas de reserva descentralizadas”, como o OHM foi originalmente apresentado pela sua equipe de desenvolvedores. 

O OlympusDAO introduziu um mecanismo de venda do seu token nativo através de títulos, no qual o OHM é vendido com desconto em troca de stablecoins como o DAI ou o FRAX. Estes tokens são adicionados ao tesouro do protocolo como ativos de reserva atrelados ao valor de mercado do OHM.

A correlação do OHM com os ativos depositados no tesouro determinará se o protocolo deve aumentar a emissão de OHMs ou se deve queimá-los, assim como para regular o APY (Rendimento percentual anual) dos ativos em staking, cumprindo a função de um banco central descentralizado.

O OHM também pode ser trocado por tokens de provisão de liquidez (LP) cujos pares incluem o OHM. Esse token LP representa uma posição no pool de liquidez de exchanges descentralizadas (DEX) em que o OHM é negociado.

Outra inovação do OlympusDAO é a criação de um sistema de staking que recompensa os usuários com OHMs adicionais na proporção dos tokens bloqueados no protocolo. O APY (rendimento percentual anual) alto neutraliza a pressão vendedora sobre o token motivada pela possibilidade de obter OHMs com desconto através do mecanismo de títulos. No entanto, ele é autoajustável também. Quando o preço do OHM sobe, o APY cai. Em contrapartida, se o preço do OHM está em queda, o rendimento sobre os tokens em staking aumenta.

Há duas semanas, o OlympusDAO implementou um sistema de “títulos invertidos” com quatro objetivos específicos. Basicamente, o sistema determina que os detentores de OHM podem trocá-lo por DAI em uma proporção em que 1 DAI pode ser trocado pelo equivalente a US$ 1 em OHM.

Este OHM reabsorvido pelo protocolo é queimado, diminuindo o suprimento total do token em circulação. Nas duas primeiras semanas após a implementação do sistema, US$ 6,7 bilhões em OHM e gOHM foram resgatados, de acordo com uma postagem do perfil oficial do projeto no Twitter.

Para relembrar, os Títulos Inversos procuram atingir 4 objetivos principais:

– Absorver a pressão de venda
– Adicionar pressão de compra ao $OHM
– Melhorar o suporte do $gOHM quando o mercado estiver em declínio
– Auxiliar o mercado quando ele está em alta

O pagamento total de títulos inversos em USD até agora foi: $ 6.721.987,96

Isso equivale a: 2.668,8 $gOHM ou 370.856,45 $OHM retirados de circulação e queimados

O apoio por $gOHM agora está em alta.

— OlympusDAO (@OlympusDAO)

Além disso, o OlympusDAO atuou como um estabilizador do mercado para garantir a paridade do FEI, outra stablecoin algorítmica cuja paridade com o dólar foi ameaçada pela onda de medo que tomou conta do mercado. Em 13 de maio, o OlympusDAO anunciou que havia feito o swap de 50 milhões de DAI por FEI, adicionando o ativo ao seu tesouro como forma de ampliar a diversificação de suas reservas.

Com isso, o mercado reagiu positivamente, acreditando na possibilidade de retomada do preço do OHM, embora sob novas bases, muito diferente do status que tinha o OlympusDAO no ápice do movimento que ficou conhecido como DeFi 2.0.

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